sábado, 21 de fevereiro de 2009


O mundo da Geografia


A Geografia é essencialmente uma história da natureza. Para conhecê-la e aprender a interpretá-la, os PCN sugerem o estudo das paisagens e das relações que se estabelecem entre estas e as sociedades humanas.


O que os PCN propõem para o ensino desta disciplina?


O objetivo do ensino de Geografia, segundo os Parâmetros, é explicar como a sociedade se apropria da natureza. A paisagem não é estática. Ao contrário, está em constante transformação e é esse caráter de mutação e inter-relação com o ser humano que deve ser enfatizado. A Geografia é essencialmente uma história da natureza. Assim, os PCN pretendem que o aluno aprenda a observar, descrever, registrar, explicar, comparar e representar as características do lugar onde vive, de outras paisagens e de diferentes espaços geográficos – isto é, a ação do ser humano sobre a natureza.

Quais são os blocos temáticos que devem ser trabalhados de 1ª a 4ª série?

Há dois grandes blocos que se subdividem em temas. O primeiro bloco é o estudo da paisagem local que engloba temas como: tudo é natureza; conservação do ambiente; transformação do ambiente. O segundo grande bloco trata especificamente das relações entre as paisagens urbanas e rurais e está dividido em: o papel da tecnologia na construção de paisagens urbanas e rurais; informação; comunicação e interação; distâncias e velocidades nos mundos urbano e rural; os modos de vida urbano e rural.

Em Geografia, o que significa partir do conhecimento prévio do aluno?

O professor deve saber quais são as idéias que as crianças têm sobre o lugar em que vivem e sobre outros lugares, e sobre a relação entre eles. O professor precisa investigar esses conhecimentos com antecedência para trabalhar o significado deles para as crianças, que assim podem ampliar os conceitos que trazem consigo, construindo novos conhecimentos.

Quais são os procedimentos próprios da Geografia?

Observar, descrever, representar e construir explicações são procedimentos que as crianças podem desenvolver desde o início do Ensino Fundamental, ainda que necessitem do auxílio do professor. Por exemplo: é o professor que vai mostrar às crianças que observar não é apenas olhar, mas olhar em busca de respostas. Descrever não é fazer uma lista do que foi observado, mas relacioná-lo, tentando responder a uma hipótese.

Que instrumentos as crianças recém-chegadas à escola terão para atingir esses fins?

As crianças vão ser treinadas na leitura de textos e imagens e na observação de paisagens, para buscar as informações necessárias à ampliação de seu conhecimento. No caso da leitura de textos, se as crianças ainda não foram alfabetizadas, o professor pode ajudá-las nesse procedimento, lendo para a classe. A criança deve ser estimulada a registrar por escrito o que observou ou aprendeu. Afinal, o exercício da escrita não deve restringir-se à aula de Língua Portuguesa. A discussão e o compartilhamento de conhecimentos devem ser estimulados. Ao professor cabe incentivar essas atividades. O estudo do meio, a representação dos lugares e o trabalho com imagens são recursos didáticos importantes nessa fase do aprendizado.

Como a Geografia trabalha em conjunto com outras áreas?

É importante que a Geografia dialogue com a História, procurando a historicidade indispensável para a construção da interpretação de uma paisagem. Também há conceitos de Ciências Naturais que têm relação com os de Geografia. Por exemplo: o funcionamento da natureza e suas influências na vida humana. Um mesmo tema pode ser abordado de diferentes pontos de vista.

Como os alunos são introduzidos na linguagem cartográfica?

O primeiro passo pode ser o desenho, que também trabalha com a imagem. O desenho pode familiarizar os alunos com noções de distância, proporção e direção, que serão usadas na leitura de mapas. Outro ponto importante é verificar quais são os referenciais já utilizados pelas crianças para se localizar e orientar no espaço. A partir daí, o educador pode criar situações nas quais os alunos esquematizem e ampliem suas idéias de distância e orientação. A etapa seguinte é colocar as crianças em contato com mapas simples, sempre em situações carregadas de significado para os alunos. Os alunos devem ter acesso a diferentes tipos de mapa, atlas, globo, planta e maquete.

O que é a leitura de paisagem?

É o conhecimento de seus elementos sociais, culturais e naturais e a interação entre eles. A idéia é ajudar as crianças a perceber que essa paisagem não está parada, mas em constante processo de transformação. Um mesmo lugar está relacionado a vários espaços e tempos. Essa leitura pode se dar de forma direta, com a observação da própria paisagem, ou indireta, por meio de fotografias, vídeos, literatura e relatos.

Qual o conteúdo atitudinal da Geografia no ensino fundamental?

Desenvolver atitudes responsáveis com o meio ambiente, evitando o desperdício e valorizando os cuidados para a preservação da natureza é um exemplo. Compreender as diferenças – e respeitá-las – que se estabelecem a partir de paisagens também diversas, como o campo e a cidade, é outra postura importante de ser desenvolvida durante o ensino fundamental.

Quais devem ser os critérios de avaliação?

Ao final da 4a série, o aluno deve ter desenvolvido uma série da habilidades, como leitura, interpretação e representação do espaço por meio de mapas; reconhecimento da paisagem local e comparação dela com outras paisagens. Também deve ser capaz de perceber as diferenças entre campo e cidade, o papel das tecnologias, da informação, da comunicação e dos transportes na transformação das paisagens e na estruturação da vida em sociedade.
História

Histórias que a História revela
A História trabalha com a temporalidade ou a relação do ser humano com o tempo, os sujeitos e os fatos históricos. Mas os PCN alertam: o tempo não é apenas linear, os sujeitos não se limitam aos grandes personagens e os fatos históricos não se restringem aos acontecimentos políticos.
Quais são as temáticas específicas desta disciplina?
A História trabalha com a temporalidade, isto é, a relação do ser humano com o tempo, os sujeitos e os fatos históricos. Os PCN abrem novas perspectivas ao lembrar o professor de que o tempo não é apenas linear – hoje, amanhã, depois de amanhã, no ano 2001, 2002 etc. – ; que os sujeitos históricos não são apenas os grandes personagens e que os fatos históricos não se restringem aos acontecimentos políticos. Para tanto, é preciso ter um repertório de história cultural, história da mulher, da criança etc. O primeiro passo é saber que existem outras histórias a serem exploradas. É preciso confrontá-las com o mundo real, com o cotidiano das crianças e dos jovens. A cada momento é preciso fazer a ligação entre passado e presente.

Quais são as maiores dificuldades na aplicação dos PCN no ensino de História de 1ª a 4ª série?


Uma das grandes dificuldades é a falta de tradição no ensino de História. Durante muito tempo, os professores ensinaram Estudos Sociais, uma disciplina que se apoiava no nacionalismo e em datas cívicas, como a independência e a proclamação da República. Eram fatos isolados e não se dava importância ao processo histórico. Para o professor de 1ª a 4ª série que tem formação em magistério, às vezes é difícil entender o que a disciplina de História tem de específico. Uma idéia para superar essa dificuldade é estabelecer um diálogo e formas de cooperação com os professores de 5ª a 8ª série.
Como se aplica o construtivismo no estudo de História?


Essa é outra dificuldade. Muitos professores de 1ª a 4ª série não conseguem aplicar a postura construtivista a essa disciplina. Desde os anos de 1970, uma maioria expressiva de professores interpretou e concluiu que o ensino construtivista de História devia concentrar-se nos chamados círculos concêntricos. A idéia era a de que as crianças pequenas só entendem o que é concreto — e esse conceito foi entendido literalmente.Assim, nas duas séries iniciais, a criança estudava sua identidade, sua família, a escola e o bairro. Na terceira série, ela estudava o município e, na quarta, o Brasil. Isso acabou consolidando algumas temáticas sem questionamento. Por exemplo: a imigração se transformou em um tema tradicional, sem considerar a realidade das crianças. Os professores precisam relativizar, pois numa classe na periferia de São Paulo, os pais das crianças não vieram da Itália ou da Alemanha, mas provavelmente do Nordeste e de Minas Gerais. Se o professor esquece a origem das crianças e só enaltece o trabalho dos imigrantes europeus, seus alunos ficam mudos, murcham, sentem-se desvalorizados.Felizmente, esse quadro pode ser alterado. O próprio professor pode servir como referência, caso seu pai tenha vindo de Pernambuco, ou sua da mãe, de Goiás, por exemplo. Se a mãe da criança é sozinha, isso não deve ser motivo de vergonha para ela. Essa é a realidade de uma grande parte da população brasileira. É a história social brasileira. Isso é partir da realidade dos alunos, segundo uma postura construtivista.
O que deve ser privilegiado em História de 1ª a 4ª série?


Os Parâmetros detalham dois grandes eixos temáticos – a história local e do cotidiano, e a história das organizações populacionais. A história do cotidiano pode incluir, por exemplo, o alimento que está sobre a mesa e que tem uma referência cultural. A criança precisa desenvolver a capacidade de olhar a mesa e reconhecer a origem da comida que está sobre ela, qual é o seu significado. A história do cotidiano é muito importante, pois é esse o espaço que a criança e o jovem têm para mudar, para adotar uma determinada atitude. É no dia-a-dia que eles podem aprender a valorizar e proteger o meio ambiente no seu entorno. É no cotidiano que vão aprender a valorizar a mãe lavadeira, por exemplo, que luta para criá-lo.
Como se trabalham os eixos temáticos?
O jeito mais fácil de tratar os eixos temáticos é por meio dos subtemas propostos nos PCN. Seja qual for o tema, o fundamental é que o passado só faz sentido na relação com o presente. Mas a idéia de trazer os problemas para o presente às vezes faz com que os professores se limitem aos dias de hoje. Por exemplo: para tratar a questão da cidadania, é preciso pesquisar quando e onde ela surgiu, como era entre os gregos, como se foi transformando ao longo da história. O ponto é entender o mundo atual dentro da temporalidade. O professor precisa fazer escolhas, ter autonomia como educador e como professor de História.
E como se trata a história local?
Um exemplo de tema de história local é a realidade dos povos indígenas. É o resgate da história dos moradores locais há 200 ou 500 anos. Como é a relação da comunidade em questão com os povos indígenas hoje e como era no passado? Esse tema aborda a temporalidade e é também um modo de apresentar a diversidade étnica e cultural do povo brasileiro. É importante lembrar que no Brasil existem 170 diferentes línguas e que os povos indígenas são os donos de um imenso patrimônio cultural. Esse é um jeito de fazer as crianças conhecerem a nossa identidade e se sentirem donas dessa herança.
Como os PCN encaram a questão dos nomes e datas tradicionalmente decorados em História?
Muitos dados permanecem, pois servem como balizas para a compreensão do mundo contemporâneo. O que muda é a relação com eles. A memória é usada em diferentes situações na vida. Por exemplo, quando o aluno vir um quadro do pintor holandês Frans Post, vai perceber que aquele tipo de pintura é diferente da atual e que traz uma série de referências de sua época. O fundamental é saber transferir o conhecimento adquirido para a vida diária.As datas servem para nos localizarmos no tempo, entender o que veio antes e o que veio depois. Uma proposta interessante é o trabalho com as durações, quer dizer, não é a data sozinha, mas o período que um determinado evento ocupa no tempo. Algumas durações são curtas, outras mais longas, outras longuíssimas.Em que o tempo de duração de um evento influencia a socidade? Por exemplo, a escravidão no Brasil durou mais de 300 anos. Esse tempo produziu efeitos na sociedade brasileira que perduram até hoje. É importante perceber que há várias dimensões de tempo simultaneamente. Por exemplo: o presidente muda a cada quatro ou oito anos, mas todas as trocas estão dentro de um mesmo sistema econômico, o capitalismo, que já dura mais de 400 anos.
Quais são as fontes para o ensino de História?
É importante ensinar a criança a manusear vários tipos de documentação. Cartas, jornais, documentos pessoais, entrevistas são fontes para o ensino de História. No trabalho com a memória, a pesquisa com pessoas mais velhas na comunidade ou na família e o levantamento de dados em jornais antigos são duas ferramentas bastante ricas. Esses procedimentos podem ser usados, por exemplo, para resgatar a história da água. Onde se pegava água há 50 anos, como as mulheres lavavam a roupa. Pessoas muito velhas podem contar a história da cidade.A leitura de imagens também é muito importante. Por isso, deve-se valorizar o contato com vídeos e obras de arte. Na realidade, o professor ensina o aluno a pesquisar, uma atividade que ele exercitará a vida toda.
Como a História trabalha os temas transversais?
Em História, os eixos temáticos são os próprios temas transverais, que na verdade representam os grandes temas do mundo de hoje. De 1ª a 4ª série, a história local deve ser confrontada com a história de outros lugares. Assim, pesquisar as migrações no Brasil dentro do eixo de deslocamentos das populações leva à discussão sobre a formação da identidade e da cidadania. É a própria pluralidade cultural. A ética, por seu lado, permeia as relações entre os diversos povos que se encontram em um determinado lugar e isso deve ser lembrado. Outro exemplo: o estudo da história da água – como era o abastecimento antigamente; como é hoje; o que a água representa para o mundo atual – também pode levar a um debate ético sobre a economia de água ou sua importância para a saúde humana.
O que a criança precisa saber da História?
Uma habilidade básica é aprender a se localizar no tempo e compreender que o tempo não é uma categoria absoluta, mas construída socialmente. Tanto que além do nosso, existem outros calendários e outras formas de contar o tempo. É preciso perceber a dimensão social e cultural dessas construções. Dessa forma, os fatos políticos e os grandes personagensdeixam de ser o tema dominante da História, que adquire a perspectiva de um processo em construção permanente.
Como deve ser o uso do livro didático?
Mesmo que os livros sejam ruins, eles podem ser aproveitados. Apresentando vários deles, é possível mostrar que há opiniões diferentes, vinculadas a diferentes posições ideológicas. Por exemplo, se o professor estiver tratando da Revolta de Canudos, pode confrontar os livros com notícias de jornais. O livro também pode ser uma fonte para o trabalho com imagens, como as reproduções de obras de arte.
Como as atitudes são trabalhadas em História?
As atitudes partem de uma perspectiva do cotidiano, pois é no dia-a-dia que as pessoas se posicionam. A História proposta pelos PCN é o conhecimento na relação com a vida das pessoas. É este aprendizado significativo que vai gerar umadeterminada atitude. Nesse sentido, é importante escolher temas que possibilitem a ação no mundo, problemas que têm de ser enfrentados. Voltando ao exemplo da água, economizá-la é fundamental para que não falte para ninguém.É uma questão de respeito pelo outro, de cidadania. Outra possibilidade é refletir como se constrói uma identidade latino-americana a partir da comida. Qual é a diferença entre batata chips e um prato de arroz com feijão? A quem interessam os alimentos industrializados? Que escolhas podemos fazer diante desses alimentos?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Ciências

As Ciências e os instrumentos para conhecer o mundo

Com os PCN, as definições de conceitos não são mais o ponto de partida do ensino de Ciências, e sim o ponto de chegada: as experiências, as observações, as discussões em grupo e as comparações é que permitem às crianças construir esses conhecimentos.

O que os PCN alteram no ensino de Ciências de 1ª a 4ª série?
No ensino tradicional, o ponto de partida das Ciências são as definições de conceitos. De acordo com os Parâmetros, os conceitos são o ponto de chegada. Quer dizer, as experiências, as discussões, as comparações é que vão fazer com que as crianças construam os conceitos. Essa mudança é fundamental porque, à medida que a criança constrói o caminho do conhecimento, ela o assimila de fato.
Como se aplica o construtivismo às Ciências?
A psicogênese – os estudos do biólogo suíço Jean Piaget sobre o processo de desenvolvimento cognitivo das crianças que originaram o construtivismo – é uma forma de olhar para a experiência de aprender que até então não havia sido proposta. Quando se lê a biografia de um grande cientista, como Galileu Galilei, percebemos que ele teve dúvidas, imaginou hipóteses que se revelaram erradas, teve de voltar atrás em alguns conceitos para avançar em outros. Quer dizer: a construção do conhecimento não é um caminho em linha reta. Costumamos tirar da criança o direito de errar. É importante verificar como incorporamos o erro. É preciso estar atento ao processo, às hipóteses que o aluno levantou para chegar a um determinado resultado, e não simplesmente verificar se a resposta está certa ou errada
Como se utiliza o conhecimento prévio das crianças na construção do conhecimento científico?
A criança vive formulando hipóteses sobre o mundo à sua volta. Se a professora lhe perguntar se a Lua tem luz própria, ela poderá responder que não, justificando sua resposta no fato de os astronautas não terem se queimado quando estiveram por lá. Esse tipo de formulação deve ser levada em conta. Mas o conhecimento do aluno nesse caso ainda é insuficiente, mesmo que a resposta seja lógica e coerente. A partir da formulação empírica do aluno, o professor cria um conflito. A solução do conflito entre a lógica da ciência e o conhecimento empírico do aluno representa a aquisição do conhecimento.
Qual é o valor da experimentação em Ciências?
É um procedimento fundamental na construção do conhecimento científico. No espaço escolar, não há experiência que não dê certo, mesmo quando os resultados são diferentes do esperado. Nesse caso, professor e alunos devem, juntos, procurar as causas da diferença. Também vale incentivar os alunos a colocarem em prática procedimentos diferentes do padrão e analisar em que os resultados diferiram.
O conhecimento científico não pára de crescer. Como dar conta de tudo na sala de aula?
É impossível abarcar todo o conhecimento. É preciso selecionar. O principal critério a ser usado na escolha de temas para serem trabalhados junto com os alunos é partir do contexto social e da vivência de alunos e professores. Isso facilita o diálogo com outras disciplinas e coloca nas mãos do professor um instrumento flexível para adaptar as atividades ao interesse e às características da classe. Além disso, é preciso oferecer ferramentas para que a criança desenvolva a capacidade de pesquisar sozinha. Esta é uma habilidade que lhe será útil por toda a vida.
Quais são os procedimentos que devem integrar o aprendizado de Ciências?
No estudo de Ciências, a criança deve desenvolver a observação – direta, de animais, plantas etc; ou indireta, por meio de filmes, fotos, microscópios, telescópios etc. – , a experimentação, a leitura de textos previamente conhecidos pelo professor, a entrevista, a excursão e o estudo do meio. Todos esses procedimentos são meios de obter as informações necessárias à solução de um problema. No final de um trabalho ou de um projeto, o conhecimento deve ser sistematizado para não ficar solto, perdido. A sistematizacão, isto é, a ordenação do que foi aprendido é o último degrau na constituição de um determinado conhecimento, indispensável antes de se passar a outro conteúdo, pois clareia o que foi trabalhado e dá uma visão de conjunto.
Como são tratadas as atitudes no ensino de Ciências?
Essa é uma área em que existe uma demanda constante de tomada de atitude frente ao conhecimento. É um grande engano imaginar que a ciência é neutra. Longe disso, ela é um campo fértil para os jogos de interesses. Nesse sentido, as questões relacionadas ao ambiente – um dos blocos temáticos sugeridos pelos Parâmetros – são privilegiadas. O primeiro questionamento é a crença que perdurou até poucas décadas atrás de que o ser humano era senhor da natureza, e não parte dela. A partir do entendimento da complexa rede de inter-relações entre todos os seres vivos, fica mais fácil entender o porquê de não jogar lixo na rua ou desperdiçar água. A atitude deve nascer da compreensão de sua importância, não de um discurso. O bloco ser humano e saúde também é uma parte do conhecimento que se presta à tomada de várias atitudes. Ele parte da importância que é atribuída às variações individuais e estimula uma postura de auto-respeito e de aceitação das diferenças entre as pessoas. O bloco recursos tecnológicos representa igualmente uma área em que os debates e as atitudes podem florescer, pois trata-se da discussão sobre os processos, instrumentos, aparelhos e máquinas que transformam matéria e energia em produtos necessários à vida humana, questionando os prós e os contras de cada tecnologia a partir de questões simples como, por exemplo: de onde vem a luz das casas?
O que muda na avaliação do ensino de Ciências segundo os PCN?

Tradicionalmente, a avaliação baseia-se em questionários, que muitas vezes se prendem a definições e conceitos decorados pelos alunos, sem a necessária compreensão. Utilizam-se exemplos como se fossem os próprios conceitos. Como a proposta dos Parâmetros é chegar aos conceitos depois de passar por experimentos, discussões e aproximações, a avaliação à moda antiga deixa de fazer sentido. Para a avaliação, a interpretação de determinadas situações que exijam a aplicação dos conceitos apreendidos deve ganhar espaço em relação às questões isoladas e genéricas: pode ser uma história, um texto, uma figura, um experimento ou um problema. Também muda a postura do professor frente ao erro, que deixa de ser encarado como culpa do aluno e passa a ser uma sinalização para que o professor reoriente a sua aula, criando novas situações que ajudem a criança a avançar na construção do conhecimento.
Como os PCN propõem que se aborde a questão da Ciência Aplicada, ou a Tecnologia?
Uma das sugestões é iniciar essa discussão propondo aos alunos a comparação entre os procedimentos adotados pelos homens no decorrer da História para resolver seus problemas cotidianos: como faziam para levantar grandes pesos antes da invenção da alavanca e dos guindastes; como chegaram à invenção da roda; como foram criando e aperfeiçoando meios de transporte cada vez mais sofisticados.
Os PCN também tratam da educação para a saúde?
Sim, e as sugestões dizem respeito ao incentivo e à aquisição de hábitos saudáveis. Eles insistem na idéia de que é preciso ensinar os alunos a desenvolver respeito pelo próprio corpo. E o mais importante: não se pode perder de vista que o corpo humano não é uma máquina. Ele sente, se relaciona com o que está fora dele e tem uma série de necessidades.
Temas Transvers

A prática da transversalidade

Os temas transversais representam a maior das novidades propostas às escolas pelos PCN. Cada um deles apresenta questões urgentes da sociedade brasileira que complementam os conteúdos escolares. Tratam de ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.

O que são os temas transversais?

Eles representam a maior das novidades propostas às escolas pelos PCN. Cada um deles apresenta questões urgentes da sociedade brasileira que precisam ser discutidas, e cujos conteúdos passam por todas as áreas, transversalizando as disciplinas convencionais. São questões que complementam os conteúdos escolares e referem-se a ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, pluralidade cultural — os chamados temas transversais. Eles recebem essa definição porque não são disciplinas a mais no currículo escolar, nem se limitam a uma determinada área do conhecimento. Os temas transversais implicam não só a sua discussão por parte dos professores, como a adoção de atitudes coerentes com a educação centrada no exercício da cidadania. Saúde e meio ambiente costumam ser trabalhados com mais facilidade, pois representam linhas de pensamento construídas e aceitas socialmente. Para muitos, a orientação sexual é um tabu, enquanto a ética e a pluralidade cultural deixam muito mais à mostra o modo como o educador pensa e age.

Qual é a importância dos temas transversais dentro dos Parâmetros?

O conceito de tema transversal surgiu na Inglaterra quando o currículo mais fechado do mundo começou a abrir espaço para outras concepções de educação, como a idéia de que o conhecimento pode ser construído por meio de atividades. Da observação dessas experiências surgiu a percepção de que existem temas que permeiam os conteúdos das várias áreas do conhecimento. Os temas transversais são exatamente isso.

Os temas transversais podem estar, de fato, presentes em todas as disciplinas?

Sim. Cada professor deve olhar para o seu ciclo e procurar os objetivos convergentes. O ideal é que a escola estruture o seu projeto educativo, com a participação de todos os professores. Também seria ideal que o professor fosse vinculado a uma determinada escola, isto é, que estivesse totalmente comprometido com o projeto da "sua" escola e não precisasse se dividir em várias instituições. Quando o currículo é montado sobre um projeto consistente, os temas transversais surgem naturalmente, pois são os eixos que levam à formação geral do cidadão. Por isso, eles não podem estar nas mãos de apenas um professor, mas devem passar pela postura coerente do conjunto de profissionais da escola.

Os temas transversais exigem uma maior integração entre os professores?

Sim. Os temas transversais obrigam os professores a se colocarem no lugar do outro. Esse outro pode ser tanto o aluno quanto o professor de uma outra área, ou até mesmo os demais profissionais da escola, desde os serventes até a diretora. Por exemplo: o professor não aceita um trabalho entregue com atraso, mas não marca prazo para devolver as provas aos alunos. Claro que se o trabalho não fizer sentido para a criança, ela vai entregá-lo só porque tem medo de tirar nota baixa. O papel da escola é coordenar e compatibilizar a construção do conhecimento com a realidade cotidiana, e os temas transversais são um instrumento privilegiado para isso. O professor tem a tendência de achar que vai ter de ensinar a sua disciplina e mais os temas transversais. Não é nada disso. Os temas também levam os professores a fazerem parcerias, para que um não repita o que o outro está ensinando. O trabalho deve ser feito em equipe: é importante que haja cobertura dos demais professores. Quando isso não acontece, o aluno muitas vezes consegue distinguir entre quem está realmente interessado em ajudá-lo a descobrir, a aprender e a crescer, e quem não está. Mas nem sempre isso acontece e o professor bem-intencionado acaba pagando pelos demais. As equipes devem ser co-autoras dos projetos das escolas.

Quais são os fundamentos dos temas transversais?

Respeito, diálogo, justiça e solidariedade devem estar presentes nas relações que se desenrolam na escola o tempo todo. Estes são os fundamentos da educação e dos temas transversais. A escola foi criada para dar educação formal ao cidadão. A sua função é socializadora. Por isso, é importante que não só os professores, mas todas as pessoas que trabalham na escola tenham uma postura coerente. Se a merendeira atira o lanche da criança de qualquer jeito, ela não está dando um bom exemplo de respeito mútuo. É uma questão ética. Nesse sentido, a direção escolar tem um papel importante, pois a maneira como diretores e supervisores tratam os professores é reproduzida na relação com os alunos.

Os temas transversais levam a um maior envolvimento com a comunidade?

Sim. À medida que a escola incorpora as discussões que estão agitando a comunidade, automaticamente, quem está ao redor sente-se tocado, identificado e começa a participar. Para que isso aconteça, é preciso que a escola como um todo tenha um projeto educativo que contemple a comunidade.

A idéia de sempre partir do conhecimento prévio dos alunos também é possível no caso dos temas transversais?

Sim. Aliás, isso vale também para o professor. Isso mesmo, os professores também possuem conhecimento e experiência adquiridos em anos de prática de sala de aula. No entanto, eles geralmente esquecem esse procedimento em relação a seu próprio trabalho. Por exemplo, é comum ver os professores com um caderno em branco no planejamento do início do ano. Onde ficaram as anotações, as experiências anteriores? É preciso registrá-las para que sejam usadas. Os próprios documentos dos PCN devem ser material de consulta  quando surgir uma dúvida, o professor vai lá e relê. Por isso, devem ser riscados, anotados, questionados.

Há mais de uma forma de trabalhar os temas transversais?

Sim. Existem três vertentes para o trabalho com os temas transversais. Em primeiro lugar, o professor deve incluir em seu planejamento de aulas o levantamento de questões relacionadas aos temas transversais. A segunda forma de trabalhar é por meio de projetos. Os projetos são questões mais amplas que envolvem a participação de várias disciplinas. Um jeito interessante de começar a montar um projeto é fazer um mapa conceitual ou semântico. A partir do tema escolhido, colocam-se no papel os vários aspectos que serão abordados, mostrando as relações entre eles. É uma forma de ter clareza quanto ao que se pretende com o projeto. A terceira linha de trabalho é a atenção permanente. O professor precisa estar atento o tempo todo para perceber a necessidade de agir em momentos críticos. Por exemplo: se ele identifica uma atitude racista entre seus alunos, deve interferir e levantar o assunto imediatamente. Também deve se auto-observar para que sua postura seja coerente com seu discurso.

Como tratar a orientação sexual para as crianças de 1a a 4a série?

Na 4ª série, isso pode aparecer naturalmente como tema na sala de aula, quando as crianças estudam o corpo humano. Mas a referência dos Parâmetros é clara: a orientação sexual deve ir muito além da anatomia. Afinal, a sexualidade atravessa mesmo a vida da escola com todo o seu potencial explosivo. Os PCN, porém, se propõem a facilitar a vida do professor nesse aspecto.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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A Matemática do dia-a-dia
A resolução de problemas é o centro do trabalho na Matemática. A partir desse exercício, a criança constrói conceitos e vê significado no aprendizado. Os educadores matemáticos querem "descomplicar" o ensino da disciplina, valorizando o uso social da matemática ou a matemática do dia-a-dia.
Quais são as novas propostas para a Matemática?
No início dos anos de 1980, os matemáticos chegaram à conclusão de que o essencial na matemática é a resolução de problemas. A matemática como ciência evoluiu a partir da solução de problemas reais. Por exemplo, os egípcios desenvolveram a Geometria e as unidades de medida porque precisavam desses elementos para medir as cheias do rio Nilo, que eram essenciais para a agricultura.No ensino tradicional da Matemática hoje, parte-se das definições e exercita-se o cálculo. A proposta dos PCN é inversa: extrair os conceitos a partir da resolução do problema. Assim, a criança vê significado no aprendizado. Além disso, a construção da Matemática por meio da resolução de problemas exercita algumas estratégias de aprendizagem, como a intuição, a tentativa e erro e a validação.Mas atenção: não são quaisquer problemas, e sim aqueles em que o aluno tenha de construir uma solução; em que esta solução não esteja pronta de antemão. Em síntese, os educadores matemáticos querem "descomplicar" o ensino da disciplina, valorizando o uso social da matemática, ou a matemática do dia-a-dia.
Por que um professor que ensina Matemática do jeito tradicional há décadas mudará seu modo de ensinar?
Porque logo ele irá perceber que com esse novo jeito de ensinar Matemática, seus alunos perdem mais facilmente o medo que acompanha a disciplina e aprendem com muito mais prazer. Há 20 anos os matemáticos vêm se reunindo em seminários e congressos. Mas as discussões raramente chegam à sala de aula. Antes de mais nada, os Parâmetros são uma maneira de os professores das mais distantes regiões do Brasil saberem que existem propostas diferentes. Nem sempre o que o professor explica é compreensível para os alunos, pois o ensino da Matemática ainda está muito centrado na memorização. Outros recursos pedagógicos além da aula expositiva são pouco explorados. Resultado: o conhecimento perde seu significado, o que dificulta a aprendizagem. Para que o aluno realmente aprenda, é preciso que ele tenha clareza quanto à origem e à utilidade do conhecimento.
Como usar o conhecimento prévio dos alunos?
Uma criança de 4 ou 5 anos já conhece muitos números, como o da casa, o do telefone de sua mãe e o do ônibus. Seu conhecimento desse assunto vai muito além do que propõe a escola nas primeiras séries. Assim, a criança não se sente desafiada, motivada. Ela desanima. A atitude paternalista de propor exercícios bem fáceis é uma péssima estratégia. Para que servem os números? Para identificar os jogadores de futebol, os dias do calendário; indicam o preço de um brinquedo muito desejado. Mas o valor desse brinquedo tem dois números? Tudo bem! Isso é buscar um contexto significativo para os números. As crianças têm muitas hipóteses sobre a escrita dos números e vai colocá-las à prova nessas situações concretas.O mesmo acontece quando precisa resolver um problema: a criança usa tudo que sabe e, assim, também vai descobrindo o que não sabe. Ela interpreta os dados e as situações indicadas pelo problema; decide os caminhos para a resolução, constrói uma estratégia; executa essa estratégia; avalia se ela foi a mais adequada; e deve poder comparar as suas estratégias e soluções com as usadas pelos colegas. Nesse percurso, desenvolve habilidades de argumentação e de generalização e consegue perceber que há várias soluções para um mesmo problema.
Como os PCN encaram o uso da calculadora?
Os PCN receberam muitos pareceres criticando o uso de calculadoras, sob o pretexto de que elas tornariam os alunos preguiçosos. Mas elas podem ser usadas de forma inteligente. Essa é a proposta. Por exemplo: quando as crianças estão aprendendo a contar, é comum dizerem "vinte e oito, vinte e nove, vinte e dez". A calculadora pode ajudá-las a perceber a regularidade do sistema decimal, mostrando que um número terminado em nove mais um resulta numa mudança de dezena — vinte, trinta, quarenta e assim por diante.
Como se deve utilizar os jogos?
Os jogos e as novas tecnologias já foram incorporados em várias escolas, na maioria das vezes de uma forma acrítica. Os PCN propõem que o professor analise como esses instrumentos estão sendo usados. O ponto central é a mudança de atitude: se ela não muda, de nada adiantam os recursos mais sofisticados. Pode-se usar jogos para discutir a pluralidade cultural. Um exemplo: os indianos inventaram o sistema numérico que utilizamos hoje por meio de um jogo. Eles jogavam pedrinhas em um quadrado até chegar ao nove. Na décima pedrinha, o quadrado já estava muito lotado e eles substituíam as dez por uma pedra numa casa ao lado, à esquerda. Assim, o dez significava uma pedrinha à esquerda e nenhuma à direita; o onze era uma pedrinha à esquerda e uma à direita; e assim por diante.Os jogos-problemas ou os problemas em forma de jogos são muito bem-vindos, segundo os Parâmetros. De acordo com os elaboradores da área de Matemática, os jogos devem ser valorizados porque com eles a criança aprende que precisa ter agilidade, antecipar e coordenar situações, usar estratégias e trabalhar com a memória, usando sua capacidade de concentração e de abstração. Mas também nesse caso, não é qualquer tipo de jogo que vale a pena e nem é interessante trabalhar com o jogo pelo jogo. Para que seu uso seja efetivo, os professores precisam ter objetivos claros, saber o que querem desenvolver.
O que muda no papel do professor?
A maioria dos professores ainda hoje contenta-se com as definições e os exercícios. A aula fica centrada na sua exposição. De acordo com os Parâmetros, ele deve ser um organizador da aprendizagem dos alunos, deve ficar mais nos bastidores. Isso não significa, de forma alguma, que ele não intervenha. Se fosse assim, se a criança aprendesse tudo sozinha, não haveria necessidade de escola.O professor orienta a aprendizagem, por exemplo, na medida que escolhe os problemas de acordo com os seus objetivos. A criança descobre muitas coisas sozinha, mas é o professor que dá nome ao que foi descoberto. Por exemplo, a criança pode perceber que 2 + 3 = 3 + 2. Mas cabe ao professor dizer que essa é a propriedade comutativa.O professor também sistematiza o que foi aprendido. Isso é importante, pois há escolas que desenvolvem projetos interessantes, mas na hora da avaliação o resultado fica abaixo do esperado. Isso acontece porque os conteúdos trabalhados ficam soltos. Ao final de um período, de um trabalho, de um projeto, é preciso parar, fazer um balanço do que foi aprendido e registrar as dificuldades e os avanços.
Há novos conteúdos conceituais?
Sim, há novos conteúdos. Tradicionalmente, as crianças só aprendem aritmética de 1ª a 4ª série e álgebra, da 5ª à 8ª. Os Parâmetros propõem outros blocos de conteúdo, como a geometria e o tratamento de informação — estatística, probabilidade —, até então ensinados somente a partir do ensino médio, ou mesmo da graduação. Por que antecipar esse tipo de conhecimento? A questão é que hoje existe uma grande demanda social em torno desse tipo de conhecimento. Por exemplo, os gráficos estão por toda parte. É preciso entender o que eles dizem.Hoje o professor apenas lista os conteúdos conceituais: o que é uma adição, uma subtração ou uma equação e pára por aí. Os Parâmetros propõem a ampliação desses conceitos por meio de procedimentos, que são o saber fazer. Um exemplo: a criança aprende as unidades de medidas — centímetro, metro, quilômetro etc. — na 4ª série, mas quando chega na 5ª série, se o professor pedir para que ela meça a sala de aula, ela pergunta se deve começar do 0 ou do 1. Isso acontece porque não se dá atenção ao saber fazer.
Como o professor organiza tanta informação?
Claro que é impossível trabalhar sobre todos os conteúdos. É preciso priorizar. Como? Verificando o que é mais relevante socialmente. Um exemplo: as escolas costumam dar muito mais ênfase às frações do que aos números decimais, que estão por toda parte. Socialmente, os números decimais são muito mais importantes, por isso é preciso inverter a ênfase. Outra dica é o professor organizar o seu currículo de forma articulada, fazendo inter-relações entre os conceitos, e não trabalhando-os de forma estanque, como se um não tivesse nada a ver com os demais. Por exemplo, pode-se trabalhar números e simetria ao mesmo tempo. Outra forma de articulação é por meio de projetos de trabalho, que nada mais são do que tentativas de contextualizar os conteúdos. Por exemplo, com o tema alimentos, pode-se explorar desde o volume de uma embalagem até quantos tomates cabem em uma determinada caixa. Esse tipo de trabalho dá resultados positivos porque é assim que as coisas acontecem no cotidiano, todas misturadas. Mesmo assim é impossível o professor ensinar tudo, e isso gera uma angústia muito grande, porque a quantidade de temas aumenta e o tempo continua o mesmo. Essa é uma situação que vai permanecer pela vida afora. O que fazer? Ensinar os alunos a aprender sozinhos, ajudá-los a desenvolver as capacidades que os permitam caminhar sozinhos. O aluno precisa desenvolver a autonomia na busca do conhecimento.
E quais são os conteúdos atitudinais na Matemática?
Basicamente, trata-se de verificar qual é a atitude diante do problema. Em geral, quando se foge do padrão de problemas a que se está acostumado, a criança não sabe o que fazer. Ela fica tão paralisada que não sabe por onde começar, não consegue ler, fazer um esboço para a solução. Isso cria uma aversão à disciplina. O que se pretende é exatamente o contrário.
Como a Matemática pode trabalhar os temas transversais?
No caso da pluralidade cultural, a história da matemática é um instrumento muito rico que ajuda a desmontar vários mitos. Por exemplo: existe a idéia de que só as sociedades mais avançadas do ponto de vista ocidental desenvolveram a matemática, mas a etnomatemática mostra que existem outras matemáticas além da euclidiana, utilizada por nós. A divisão entre os indígenas, por exemplo, é diferente. Para eles, é preciso dar mais para quem tem menos. E o resto também é dividido. Essa é uma forma de perceber que a cultura influencia a construção da matemática — e muito.Na questão da orientação sexual, a história mostra que na época do Império, na 4ª série, enquanto os meninos aprendiam frações, as meninas tinham aula de economia doméstica. Tanto na área de saúde quanto de meio ambiente, a leitura de estatísticas e de gráficos é fundamental. No tema da ética, o professor não vai dar uma aula teórica, mas deve cultivar a postura ética a todo momento e criar situações em que ela pode ser discutida. Exemplo: ele pode planejar a discussão em torno de um troco errado, quando estiver ensinando subtração.
O que muda na avaliação?
A avaliação revela o que o professor considera importante. Então, ela só muda na medida que o professor modifica o seu jeito de ensinar. É comum ele não conseguir avaliar como vão os seus alunos sem lhes dar uma prova. Isso demonstra que esse professor não tem prática de observação. A idéia é de que a avaliação seja um feedback a respeito do que ele ensinou e, se houver algo errado, tenha chance de reverter o quadro, em vez de esperar até o fim de um bimestre para perceber que perdeu um tempo precioso. Nesse sentido, a avaliação também serve, e muito, ao trabalho do professor.

cacilda.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Língua Portuguesa

O trabalho com textos
Para criar escritores e leitores competentes, o professor precisa levar para a sala de aula textos diversificados e de qualidade, desde a alfabetização. O desafio é colocar as crianças diante de situações reais de comunicação.
O que os Parâmetros propõem para o ensino de Língua Portuguesa?
O texto e a diversidade textual devem estar no centro do trabalho de alfabetização, de acordo com os PCN. É uma opção muito mais produtiva do que a do método tradicional, baseado no uso das cartilhas. A cartilha tem dois grandes problemas: o método é mecânico e desvinculado do cotidiano da criança. Por estar distante da realidade, o aprendizado tradicional da leitura e da escrita acaba perdendo o significado para as crianças, especialmente as das classes menos favorecidas, que têm um acesso mais restrito aos livros, jornais e revistas. A inadequação do método de alfabetização pode ser apontada como uma das causas dos elevados índices de repetência nas primeiras séries do ensino fundamental. A idéia dos PCN é a de que as capacidades de leitura e escrita são fundamentais para o exercício da cidadania e de que não é possível a criança concluir esse nível de ensino sem dominá-las completamente.
No caso dos conteúdos, o que a proposta sugere?
Os Parâmetros elegem o falar e o escutar como capacidades básicas a serem desenvolvidas, ao lado do ler e escrever, no ensino fundamental. Essas capacidades precisam ser desenvolvidas sempre em situações de aplicação verdadeira e significativa para os alunos. Isso quer dizer que é preciso trazer para a sala de aula o conhecimento do mundo, ou seja, que os alunos devem entrar em contato com o maior número possível de exemplos de escrita: nomes das placas de rua, automóveis, produtos nos supermercados, títulos das revistas nas bancas de jornais. São textos que têm uma utilidade real e um significado social.
Por que alfabetizar com textos é melhor?
Quando se parte de textos que dizem respeito à vida da criança, ela se sente estimulada a avançar em suas descobertas. O texto se transforma em um desafio, e não em uma ameaça. Compreendê-lo tem gosto de conquista. Assim, o processo de alfabetização vai se construindo naturalmente, a criança vai aos poucos ampliando o seu vocabulário e a compreensão do funcionamento da língua como estrutura viva, e não por meio de uma série de regras gramaticais. Durante muito tempo acreditou-se que o domínio do be-a-bá fosse indispensável para o ensino da língua. Hoje se sabe que o aprendizado da escrita alfabética não garante a compreensão e a produção de textos em linguagem escrita. Ensinar a escrever é muito mais tranqüilo no convívio com textos verdadeiros, em contextos nos quais leitores e escritores verdadeiros são confrontados com situações reais de comunicação.
O que significa o texto como unidade de ensino?
Até pouco tempo, a unidade básica do ensino de Língua Portuguesa era a letra ou, no máximo, a sílaba. Ensinava-se a juntar as sílabas para formar palavras, juntar palavras para formar frases e juntar frases para formar textos. Estes textos serviam apenas para "ensinar" a ler — eram textos para a escola, e não para a vida. Refletiam muito mais uma reunião de frases do que o conteúdo de uma idéia, uma função social. Mas se o objetivo é fazer a criança produzir e interpretar textos, o texto real e de qualidade deve nortear todo o trabalho em sala de aula. A idéia é que os professores fujam de textos simplistas que subestimam a inteligência infantil.
Qual é o papel da leitura nas classes de alfabetização?
De acordo com os PCN, a leitura é uma ferramenta essencial do conhecimento, pois a possibilidade de escrever bons textos tem origem na leitura. Também nessa questão, os Parâmetros reforçam a idéia de que não são quaisquer textos que vale a pena levar para a leitura em sala de aula. Mesmo tratando-se de crianças pequenas, que estão iniciando a alfabetização, os textos muito simplificados e facilitadores não despertam o interesse pela leitura. O melhor é que sejam interessantes, emocionantes, intrigantes. Afinal, durante um bom tempo o professor é o mediador e o animador da leitura em sala de aula.
O que muda no ensino de Língua Portuguesa, após a alfabetização?
Ainda hoje, muitos professores acreditam que ensinar Português é ensinar gramática. Os PCN vão contra essa idéia. De 1ª a 4ª série, o objetivo principal é formar leitores e crianças produtoras de textos. Ao final da 4ª série, espera-se que o aluno conheça ortografia e gramática, não como um amontoado de regras, mas como resultado da prática efetiva de leitura e escrita.
Os Parâmetros sugerem, por exemplo, que os professores montem projetos de leitura em sala de aula. Como começar?
Lendo e escrevendo junto com os alunos, propondo exercícios de reescrita dos textos lidos e correções em grupo dos erros cometidos. Assim, a criança descobre a língua a partir das questões que surgem na montagem dos textos. Vale lembrar que a quantidade de leitura e de escrita não é a mesma. Lemos muito mais do que escrevemos.
Quais são as dificuldades dos professores para seguir os PCN nessa área?
São dificuldades de ordem teórica, pois os Parâmetros fazem referência a uma série de discussões relativamente recentes que aconteceram na Lingüística. Muitos professores não tiveram acesso a essas descobertas, porque se formaram há mais tempo ou porque estudaram em faculdades que não deram atenção a esses novos conhecimentos. A situação é mais crítica de 5ª a 8ª série, pois nos últimos anos os sistemas de ensino investiram muito mais na formação dos professores de 1ª a 4ª série, em função dos altos índices de evasão e repetência registrados nessa fase.Em geral, o que aparece na escola ainda hoje é o velho esquema de emissor>código >receptor. Mas atualmente sabemos que é preciso muito mais do que um código comum para estabelecer comunicação, que esta só faz sentido se estiver inserida numa perspectiva histórica e social.
Fazer cursos de aperfeiçoamento a respeito dessas novas teorias é suficiente?
Em geral, não é. É preciso saber fazer a transposição didática da pesquisa, do contrário acaba-se caindo em certas armadilhas que apresentam o conteúdo de cara nova, enquanto a essência continua a mesma. Muitos livros didáticos até incorporam a diversidade textual — mostrando exemplos de propagandas, notícias de jornais, contos —, mas esse material acaba recebendo um mesmo tratamento pasteurizado, como se seu uso e sua finalidade fossem idênticos. Deve haver procedimentos de leitura mais complexos. Caso contrário, o leitor cai em um emaranhado de textos e o professor transmite a idéia de que boa leitura é aquela que se faz do começo ao fim e em que todas as palavras desconhecidas são procuradas no dicionário. É preciso explorar os diferentes modos de ler e também as diversas modalidades de escrita. O gênero e a finalidade de um texto são o que determina o uso de um certo estilo de redação. Uma carta para um amigo, por exemplo, é muito diferente de uma carta formal escrita para se pedir emprego. Assim como ambos os textos não têm nada em comum com um poema ou um texto argumentativo.
Mas a criança deixa de aprender gramática?
Existem várias gramáticas, embora a única escrita seja a da língua padrão. A pessoa que fala eu vou, tu vai, ele vai, nós vai está seguindo uma outra regra, que por sinal é muito parecida à do inglês, em que apenas a terceira pessoa do singular é diferente. A língua culta deveria ser ensinada como uma língua estrangeira, no sentido de que não se aprende uma língua esquecendo outra. Além disso, os PCN trabalham com a idéia de que escrever e falar são coisas diferentes, e de que não existe maneira certa ou errada de falar. Tanto que propõem a discussão em sala de aula dos preconceitos que há em torno das variedades, ou variantes, lingüísticas.
Meios de comunicação, como a televisão, atrapalham a criação de um hábito de leitura?
Não. Também é possível concluir, com os Parâmetros, que cinema e televisão não inibem o hábito da leitura. Claro que a existência desses veículos mudou a relação com a leitura. Por isso, é importante dialogar com esse meios. Indicar livros que tenham sido adaptados para o cinema ou a televisão é uma experiência rica e interessante, pois possibilita comparar diversas linguagens. O gosto pelo cinema não impede que ninguém seja um bom leitor.
Que outros procedimentos, além das linguagens oral e escrita, devem ser praticados?
Procedimento quer dizer saber fazer. Nesse sentido, existem técnicas que ajudam a tornar o próprio processo de ler e escrever mais fácil. Quando o aluno ainda não lê com autonomia, o professor deve ler junto com ele. Grafar e revisar os próprios textos é uma habilidade que perdurará pela vida afora. Saber falar, expor seu ponto de vista, argumentar e debater são capacidades que se adquirem e se aperfeiçoam com a prática.
Como os temas transversais são trabalhados em Língua Portuguesa?
Tudo começa com a constatação das variantes lingüísticas, ou seja, não existe uma única língua portuguesa, mas uma multiplicidade de modos de falar que convivem e refletem modos de viver, usos e desautoriza a linguagem que a criança traz de casa. É preciso combater o preconceito lingüístico da mesma forma que se combatem o preconceito racial, sexual, etário ou religioso. Ninguém pode ser discriminado por falar de um jeito diferente. Aliás, não é corrigindo o que não está de acordo com a norma-padrão que se aprende a falar e escrever segundo essa norma.O aprendizado acontece quando a criança tem acesso a livros para ler e quando ela se passa a participar de novos espaços sociais que exijam habilidades lingüísticas mais amplas. É preciso muito cuidado na hora de resgatar a linguagem que a criança traz de casa. Nada de querer corrigir o falar do Chico Bento. Trazer este exemplo para depois apresentá-lo como errado não ajuda nada. Pelo contrário, acaba reforçando o preconceito. Respeitar a pluralidade lingüística é respeitar a pluralidade.
E quanto aos demais temas transversais?
Não há como trabalhar a linguagem por meio de textos sem considerar outros temas. Para que as sutilezas de um texto se revelem, não basta entender o que está escrito, mas por que determinado texto foi escrito de uma ou de outra maneira. É o modo de ir revelando a postura ideológica que está por trás de cada texto. É a leitura crítica. O grande perigo nas discussões sobre os temas transversais é a língua portuguesa acabar se tornando coadjuvante. Por exemplo, numa discussão sobre meio ambiente, a desconstrução dos textos para verificar quais são os interesses a que eles estão servindo é o papel da língua. Não se pode deixar a discussão para as outras áreas e o relatório para o Português. Aliás, todas as áreas têm de se envolver com a leitura escrita. Ela é uma competência básica para todo cidadão, que deve saber que a linguagem nunca é neutra.
Qual deve ser a postura do professor?
Também no caso de Língua Portuguesa, é preciso respeitar o conhecimento anterior da criança, valorizar esse conhecimento e trabalhá-lo em situações reais de uso da escrita. Além disso, se o objetivo é construir uma comunidade de leitores, o professor precisa abrir mão da idéia de que controla tudo. O que passa pela cabeça de uma criança enquanto ela está com um livro diante de si pertence a ela. Em uma classe com 25 crianças, é possível que haja 25 interpretações diferentes para um mesmo texto. E elas precisam ter essa liberdade, sem que o professor se preocupe em fazê-las aceitar a interpretação dele, que considera a mais adequada.
Como trabalhar os conteúdos de Língua Portuguesa no pós-alfabetização?
Muitos professores hoje têm dificuldade em organizar os conteúdos de Língua Portuguesa no pós-alfabetização, pois ficam confusos sobre o que e como trabalhar, já que não existe mais a ênfase no ensino da gramática. Mas o que eles precisam ter claro é que os conceitos gramaticais são apreendidos por meio da prática dos procedimentos de ler e escrever. Para formar escritores competentes, é preciso apresentar à criança bons autores, em diferentes gêneros. O aconselhável é sempre mesclar os gêneros para não excluir os alunos que não se adaptam a um determinado gênero, mas se dão muito bem nos demais.
O que muda na avaliação de Língua Portuguesa com os PCN?
Eles propõem que se avalie o processo de aprendizado, e não um ou outro resultado isoladamente. Existe um grande risco de que o professor crie a expectativa de que o aluno produza textos tão bons quanto os que lhe foram apresentados como modelos. Uma maneira de evitar esse risco é pedir aos alunos que produzam textos sempre que forem iniciar um conteúdo novo. Assim, o professor faz um diagnóstico do que os alunos já conhecem. Depois de trabalhar com bons autores, uma nova produção poderá avaliar o quanto as crianças avançaram. Dessa forma, é possível ser mais justo e objetivo.
Amanhã matemática.....BOA NOITE
Parâmetros Curriculares

Os PCN de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental
desdobram-se em documentos específicos para cada uma das diferentes disciplinas.
Em todos eles, a preocupação central é transformar o ensino em algo significativo,
repleto de informações que instrumentem os alunos para a vida,
ajudando-os a construir e criar seu próprio conhecimento.
Aqui você encontra uma síntese dos principais conceitos.
Língua Portuguesa
Matemática
Temas Transversais
Ciências Naturais
História
Geografia
Artes
Educação Física





" O professor é o espelho para seus alunos,


quando sua imagem gera transparência do seu conhecimento,
o reflexo é uma educação sadia e produtiva "
(Profª Cacilda)

IMAGEM DO PROFESSOR
Os conceitos de cidadania, solidariedade, companheirismo etc., são metas a serem alcançadas do ponto de vista formativo.O conceito de cidadania a ser incorporado pelos alunos será trabalhado, inicialmente, mediante a valorização da imagem do professor, ser humano pleno de defeitos e virtudes. Mas isso não vem ao caso quando se trata de educar. O professor deve ter a imagem de educador. Evidentemente, não terá a imagem de educador aquele que:

a) não respeita seus alunos como seres em formação, sujeitos, pois, a uma série de atitudes contraditórias, quase sempre interpretadas à luz de velhos preconceitos;

b) falta, excessivamente, às aulas levando os alunos a uma falsa imagem do coletivo docente. Inassiduidade, que provoca a ociosidade dos alunos ao longo do ano letivo. A freqüência irregular do professor gera problemas de toda ordem na escola, desde a descontinuidade do processo pedagógico a distorções do conceito de cidadania, ou seja, a negação do direito de o aluno receber um ensino de qualidade. Gera o desprestígio da escola junto à comunidade e à idéia de que as aulas não têm qualquer importância. Muitos professores poderão alegar que não faltam por vontade própria, mas por motivos plenamente justificados. Nesse caso, o coletivo deverá formular propostas, que possam minimizar, ou mesmo superar, o problema da inassiduidade, de tal maneira que não haja prejuízo aos alunos ;

c) não valoriza o trabalho do aluno, preferindo o silêncio ou a recriminação face aos tropeços deste ou daquele discente. Os alunos precisam de incentivo e estímulo. O elogio do professor gera entusiasmo e segurança entre eles. Toda e qualquer realização do aluno deve ser elogiada. A recriminação às realizações do discente deve ser banida da sala de aula, pois gera insegurança e desânimo entre os menos dotados.


O educador sensato:
Em sua disciplina, estabelecerá metas a serem alcançadas com os conteúdos "significativos" que vai ministrar. Leve-se em conta que, fundamentalmente, o aluno deve ser levado a "aprender a apreender" ou seja, deve ser levado a incorporar "habilidades". A meta ligada à incorporação de habilidades pelos alunos deve ser inegociável, posto que, constitui o principal fundamento da aprendizagem:
Desenvolver habilidades em Língua Portuguesa significará dotar o aluno da capacidade de se exprimir por escrito e oralmente com correção, interpretar textos, etc; o que o habilitará ao bom desempenho em outras disciplinas. Mas, para a consecução dessa meta, será necessária uma série de ações que o professor de Língua Portuguesa deverá por em prática, quais sejam: programas de leitura, redações com auto-avaliação do aluno a partir de um texto escolhido aleatoriamente entre os alunos, que o professor irá discutindo com as classes, eventuais falhas apresentadas naquela redação, estímulo à escrita com sistemáticos concursos literários, a elaboração do jornal da classe ou da escola entre outras ações que o professor poderá criar para fazer com que o aluno exercite a Língua Pátria. Essas ações deverão ser avaliadas, sistematicamente, para que o professor possa perceber os progressos alcançados pelos alunos;
Desenvolver habilidades em geografia e história significará dotar o aluno do espírito crítico e compreensão da realidade que o cerca e isso se conseguirá a partir de debates de temas sociais, econômicos políticos e culturais vinculados aos conteúdos, extrapolando-os para os grandes problemas nacionais e internacionais do momento dos quais o discente tem algum conhecimento pelas informações obtidas nos meios de comunicação;
Desenvolver habilidades em educação artística significará levar o aluno a compreender e sensibilizar-se com manifestações vinculadas à música (popular e erudita) e que será incutida por constantes audições, apreciação das artes plásticas (pintura, escultura e arquitetura) nas quais o professor seja capaz de revelar ao aluno as características dessas obras.
O mesmo procedimento será levado a efeito, em nível de habilidades, nas demais disciplinas
Dentre as metas essenciais a serem estabelecidas pelo Educador, será relevante a que se refere à aula com começo, meio e fim, para se obter uma aprendizagem concreta dos conceitos básicos dos conteúdos, por meio de estratégias motivadoras, que levem o aluno a se interessar pelo que está sendo ministrado. Explicar ao aluno o sentido e a importância desses conteúdos (inserido tanto quanto possível na realidade e vivências do discente), será fundamental.


"O Plano da Escola deve assegurar

educação de qualidade para os

membros da comunidade escolar".

A PRODUÇÃO DE UM PLANO ESCOLAR
As orientações a seguir possuem a finalidade de viabilizar a produção de um Plano Participativo, por meio da resolução de problemas levantados no dia-a-dia da escola. Mais que a apresentação de um método de planejamento, este roteiro tem a intenção de refletir sobre uma das inúmeras formas de possibilitar a participação planejada de todos os segmentos na unidade escolar, sendo aceitável, desta forma, modificações em sua estrutura de modo a facilitar sua aplicabilidade.

Proposta Pedagógica Escolar e Plano Escolar
A Proposta Pedagógica (ou Projeto Pedagógico) é o documento que define as intenções da escola, em realizar um trabalho de qualidade. O Plano de Escola diz respeito à execução dessas intenções.
Tanto a Proposta Pedagógica, como o Plano de Escola, dela decorrente, devem resultar de um desejo coletivo, ou seja, obra de todos os que militam na escola. É algo que se vai construindo aos poucos. Para a consecução desse desejo coletivo, será preciso que a comunidade docente assuma realmente o seu papel interagindo para alcançar as metas que estabeleceu e pretende alcançar. Abandonar a perseguição das metas estabelecidas pelo coletivo, ao meio do caminho é o primeiro passo para o malogro do Projeto. O Plano de Escola(Plano Diretor) é um documento para muitos anos, que se vai remodelando após sistemáticas avaliações.
Assim, na elaboração da Proposta Pedagógica, é preciso reflexão profunda sobre o que se vai fazer e como será feito o trabalho, reflexão essa fundada no diagnóstico da escola no qual levar-se-á em consideração:
1. Que funcionou e que não funcionou no ano anterior, quanto ao planejado?Essa questão deverá estar muita bem explicitada entre os professores, durante o planejamento, posto que se constituirá em pedra de toque para a organização da Proposta Pedagógica, origem das grandes linhas para o Plano Escolar e o verdadeiro trabalho coletivo. Faz-se necessária à realização de uma discussão franca e honesta do coletivo, sobre os acertos e as falhas, sem subterfúgios, uma vez pretenderem todos uma melhoria do trabalho em sala de aula.
Perguntas pertinentes: a) Com que clientela a escola trabalha?De acordo com os dados coletados saber-se-á a origem sócio-econômica das famílias e sua expectativa em relação à escola e às carências intelectuais entre grupos de alunos, que precisarão ser levadas em conta para recuperar, minimamente, as defasagens de aprendizado desses discentes ao se elaborar o planejamento dos conteúdos.- Que alunos apresentam deficiências crônicas?- Que alunos foram promovidos com profundas defasagens no ano de 99.- Que a escola fez, no ano anterior, por esses alunos?- Que fará com eles neste ano?- Conhecemos realmente o "novo" aluno da escola pública?
b) Análise dos dados de aproveitamento de cada série (avaliação interna). Essa confrontação é relevante no sentido de discutir com o corpo docente as diferenças entre avaliações. Refletir o coletivo sobre tão profundas diferenças de aproveitamento poderá levar a respostas, apontando pistas para mudanças qualitativas no processo pedagógico da unidade.
Eis as primeiras questões a serem respondidas pelo coletivo ao iniciar a elaboração da Proposta Pedagógica. Fica claro que, os alunos promovidos com defasagens profundas devem ter um tratamento especial para que recuperem ainda que, minimamente, os conteúdos significativos não apreendidos. Em função dessas defasagens, seria interessante a Proposta Pedagógica prever a recuperação paralela desses alunos desde o início do ano.

2. Construir o trabalho coletivo – meta fundamental - Conceituação do trabalho coletivo
O que se nota de maneira geral nas escolas é um trabalho individualizado, de tal maneira que cada professor o realiza isoladamente, não sabendo cada um o que os demais estão fazendo, mesmo os da mesma série ou disciplina.
Perguntas pertinentes:
a) O que se entende por trabalho coletivo?
b) Seria possível um trabalho otimizado sem a cooperação de todos?
Trabalho coletivo significa, pois a integração de todos os docentes, ajudando-se mutuamente em direção a objetivos bem definidos em busca de um trabalho de qualidade em todas as disciplinas. Efetivamente, o trabalho coletivo não é algo que se desenvolve espontaneamente. Serão necessários mecanismos de controle das ações para se chegar à qualidade de ensino estabelecida pelo grupo. Controle esse que será exercido nas Htpcs, balizando as etapas a serem vencidas.


3. Como trabalhará o coletivo?Buscará elevar o nível de aprendizagem de acordo com as possibilidades e ritmo de cada grupo de alunos em todas as disciplinas (meta importantíssima e inegociável).

4. Como elevar o nível de aprendizagem?Por meio:
a) fundamentalmente, do desenvolvimento de "habilidades" entre os alunos que explicitaremos, mais detalhadamente, ao analisarmos as metas a serem alcançadas;
b) de conteúdos mínimos significativos, nos quais fiquem expressos os conceitos básicos de cada unidade de estudo das disciplinas. Esse trabalho implicará na reflexão do docente sobre o planejamento dos conteúdos com base no diagnóstico das séries.
c) da aproximação das vivências dos alunos com esses conteúdos, tanto quanto possível, aproveitando as informações, que eles absorvem dos meios de comunicação escritos e televisivos, de seu ambiente e do ambiente escolar, etc;
d) de aulas bem preparadas com começo, meio e fim, na qual o aluno tenha claro o que vai apreender (objetivos – que não devem ser muitos) e o sentido desse conteúdo. Aulas que tenham um mínimo de motivação para não entediar os alunos. Aulas improvisadas ou não preparadas, com utilização intensiva do livro didático é o primeiro passo para o tédio do aluno e os conflitos com o professor. Uma das alternativas para levar os professores a prepararem suas aulas seria reservar um espaço nas HTPCs para fazê-los relacionar conteúdos, objetivos e estratégias, que serão utilizadas durante a semana. Seria uma forma de o corpo docente e a coordenação exercerem ações de controle sobre o que projetaram, durante o planejamento, tanto do ponto de vista da Proposta Pedagógica como do Plano Escolar;
e) do diálogo constante com os alunos, mesmo com os mais rebeldes, valorizando suas realizações mais irrelevantes no sentido de elevar-lhes a auto-estima; buscar compreender-lhes os problemas. Criar formas de valorizar o aluno rebelde é dar-lhe funções específicas durante a aula, como, por exemplo, secretariá-la, anotando no quadro negro algumas passagens sobre o conteúdo que o professor está expondo; fazê-los coordenar o trabalho de grupo, quando se tratar de atividade em equipe entre outras ações que o professor poderá criar para fazer com que esse aluno se sinta útil (Excluídas fiscalizações sobre colegas que não estão realizando tarefas, anotações sobre os mais falantes da classe etc. Ações essas altamente deseducativas, mas muito usadas por alguns professores, mormente no Ciclo 1);
f) do trabalho em equipe, no qual os grupos tenham sempre que resolver algum problema proposto pelo professor. Formar grupos para realizar trabalhos que não exijam reflexão e descoberta não tem nenhum sentido e não leva a nada;
g) de pesquisa baseada em bibliografia específica, que não seria uma simples reprodução de informações contidas em jornais, revistas, enciclopédias, dicionários e manuais. A pesquisa só tem sentido se resultar em descoberta para o aluno. Por outro lado, não tem sentido o professor determinar pesquisas, se ele próprio ignora a fundamentação delas;
h) de aulas (mormente, nas áreas de ciências humanas), nas quais se desenvolvam discussões políticas, sociais, econômicas e culturais, através de painéis de discussão, seminários (aproveitando noticiários de televisão, de jornais e de revistas) sobre temas que incutam no aluno o conceito de cidadania e valores (direitos e deveres, preservação do meio ambiente, respeito pelo patrimônio público, solidariedade, sexualidade, etc. - (temas transversais);
i) da integração das disciplinas, demonstrando as relações entre os conteúdos, ou seja, a integração das disciplinas a partir de um tema específico (interdisciplinaridade).
j) da demonstração de que o professor gosta de seus alunos, expressa pelo diálogo e pela afetividade para com eles. O bom relacionamento professor-aluno é o primeiro passo para o aprendizado. Nem sempre é fácil lidar com determinados discentes, todavia mesmo o aluno rebelde respeita o professor competente e afetivo;
k) Do entrosamento família-escola, ajudando-se mutuamente, principalmente naquilo que os pais podem fazer quanto ao estudo do aluno em casa e no cumprimento das tarefas escolares (preocupação em enviar o aluno à escola com o material necessário às aulas, estabelecimento de horas específicas de estudo em casa). Sabe-se que os alunos, costumeiramente, não trazem material para as aulas. Nesse aspecto, algumas assembléias de pais, convocadas pela direção, ao longo do ano, com o comparecimento dos professores contribuiriam para esse entrosamento.
Dificilmente, haverá integração escola-comunidade, se o coletivo docente não se habituar a trocar idéias com os pais.
A falta de entrosamento, entre pais e professores, debatendo democraticamente os fatos escolares, determina um certo receio dos docentes em comparecer a essas reuniões, quase sempre realizadas pela iniciativa de muitos diretores interessados nessa integração. É preciso acabar com essa separação pais-professores.
Nenhum Projeto Pedagógico terá sucesso sem a integração escola-comunidade;
l) de atividades extraclasse: confecção do jornal da escola (elaborado nos computadores); visitas a museus; concursos literários; assistência a peças de teatro na escola ou fora dela, que poderá ensejar a criação de grupos de teatro na unidade; campeonatos interclasses, entre outras que poderão ser sugeridas durante o planejamento.
Como se pode observar, uma série de metas estão delineadas na exposição acima. Cada escola terá suas peculiaridades e as metas a serem estabelecidas a partir da Proposta Pedagógica, deverão estar em consonância com suas características, (sua realidade). Deve-se estabelecer metas factíveis de serem alcançadas pela escola e pelos professores, individualmente, e que não deverão ser muitas.



"Mais do que conhecer um método de planejamento,

aquele que planeja,

deve possuir um bom conhecimento da

realidade a ser planejada".

(Emilia Ferreiro)


PLANEJAMENTO: PROCESSO DE TRABALHO COLETIVO


O planejamento para a educação em uma escola pública marca-se por influências "externas" e "internas" a seus muros.Torna-se, hoje, cada vez mais difícil entendermos o que se passa na escola, se desconhecemos as políticas internacionais voltadas à educação, em especial as teorias ditadas por organismos internacionais de financiamento, como o Banco Mundial, e sua política de privatizações
As novas legislações como a Emenda 14, a nova LDB, entre outras, também devem ser consideradas para a compreensão da realidade escolar, pois estas legislações "determinam" a forma de organizar e de fazer a educação em nosso país.
As políticas implementadas pelos diferentes níveis de governo também devem ser consideradas uma importante fonte de influência no planejamento, pois, ao instituir e propor o programa TV Escola e os Parâmetros Curriculares Nacionais (Pcns), a esfera federal fez-se presente praticamente em todas as unidades escolares da nação. No âmbito estadual, o programa de Reorganização das Escolas afetou a educação do Estado de São Paulo, influenciando, ainda a organização do sistema municipal de ensino, particularmente, no que se refere à distribuição de alunos. Na esfera municipal, a influência advém das várias formas de entender e implementar a municipalização do ensino fundamental instituída com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Enfim, é preciso deixar claro que a escola é influenciada por diferentes fatores além-muros, sendo de fundamental importância à compreensão do significado desses fatores para o dia-a-dia da escola.
Além dessas influências "externas", a escola é também influenciada por fatores advindos de sua "realidade particular", exigindo que os agentes sociais presentes em seu cotidiano façam uma análise desse mesmo cotidiano. Pensando que "cada caso é um caso", temos que ter clareza da necessidade de conhecermos o que realmente está se passando em nossa unidade escolar.
Vejamos se, mediante um exemplo, essa idéia fica mais clara. Suponhamos três escolas: A, B e C. Apesar de a violência ser comum às três escolas, cada uma delas poderá sofrer o mesmo problema de forma distinta, ou seja, na escola "A", a violência é causada especialmente por gangues de rua, que buscam refúgio na escola, na escola "B", a violência é decorrente de brigas geradas por alunos de diferentes bairros que disputam poder no espaço escolar, na escola "C", o clima agressivo entre os diferentes segmentos da escola é gerado pela forma autoritária, pela qual a direção está conduzindo a escola.
Estamos entendendo autonomia escolar como um sistema de relações, conforme nos explica Barroso (1998): "A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua acessão se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações. A autonomia é, também um conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos, mais ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras".


"A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis".
O conhecimento da realidade escolar passa a ser uma exigência no processo de planejamento. A participação é o melhor caminho para conhecer a realidade escolar, pois a escola analisada pelo pai não corresponde necessariamente à escola vista pelo professor, bem como pode não refletir as análises dos outros membros presentes no dia-a-dia da escola, funcionários, alunos e especialistas. Por meio da participação e do debate democrático, somente, será possível o encontro de pontos comuns aos vários segmentos, das várias "realidades" presentes na escola, que deverão ser contemplados no processo de planejamento escolar.
A participação possibilita a incorporação dos vários significados que a escola possui por parte dos diferentes segmentos que vivenciam a realidade escolar. A escola deixa de ser do governo, do diretor, do funcionário, do professor, do pai, do aluno e passa a carregar simbolicamente um pouco de todos. A participação deve ser entendida como um processo de aprendizagem que demanda um tempo e um esforço de todos aqueles preocupados com a formação do cidadão. Nesse sentido, é preciso pensar em uma forma de planejar a escola de modo que se possibilite a participação de todos nas decisões sobre os seus rumos.
cacilda 21:39
Projeto Escolar

"Todo profissional deve querer saber sempre mais,
se não há inquietude, repetimos coisas que podem estar ultrapassadas...
o que era válido há vinte anos não continua necessariamente bom hoje”.

(Emilia Ferreiro)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

LÚDICO




A utilização do lúdico no diagnóstico psicopedagógico

No diagnóstico psicopedagógico a atividade lúdica é um rico instrumento de investigação clínica, pois permite ao sujeito expressar-se livre e prazerosamente.
Constitui para o terapeuta importante ferramenta de observação sobre a simbolização e as relações que ele estabelece com o jogo.
Possibilitando assim, a formulação de hipótese a serem comprovadas, ou não, posteriormente.
Esse procedimento encontra-se fundamentado na psicanálise, mais especificamente nos princípios da associação livre (Freud, 1900).
Jogar e aprender, caminham paralelamente na psicopedagogia, podemos através da hora lúdica ou hora do jogo, observar prazeres, frustrações, desejos, enfim, podemos trabalhar com o erro e articular a construção do conhecimento.
Destacamos a seguir alguns pontos relevantes propostos por alguns autores acerca da hora lúdica:
· Aberastury propôs na análise da sessão ludo-diagnóstica verificar qual a fantasia inconsciente da enfermidade e da cura, expressa pela criança. Assim, mesmo sendo utilizada como um instrumento inicial no tratamento psicoterápico , visa contribuir para formulações de hipóteses diagnósticas.
· Para O campo, a hora-lúdica acabou servindo, à medida que a experiência clínica se ampliou, como ponto de partida e de chegada para uma conclusão diagnóstica.
· Efron et alii(1976,) oferecem indicadores para análise tais como: modalidade de jogo, motricidade, criatividade, capacidade simbólica, tolerância à frustração, etc...
Isto é, uma sistematização de itens com fins diagnósticos e prognósticos, sendo que o uso ou não de interpretações está intimamente relacionado à experiência clínica do terapeuta. A preocupação do terapeuta deve ser a de criar condições ótimas para que a criança possa expressar-se livremente, colocando-se na posição daquele que procurará, a partir de um vínculo transferencial breve, conhecer e compreender a criança, priorizando para tal, a observação.


Nós psicopedagogos, que temos como foco o processo de aprendizagem, podemos acrescentar ainda à essa análise, as modalidades de aprendizagens, ritmo, as áreas de expressão da conduta, o funcionamento cognitivo, os tipos e modos de erros, os hábitos adquiridos, as motivações presentes, as ansiedades, defesas e conflitos em relação ao aprender, além das relações vinculares com os objetos de conhecimento escolar em particular.
Portanto, fica evidente o seu valor para ajudar o sujeito a reconstruir seu espaço transacional e ressignificar seu sintoma.
No diagnóstico psicopedagógico é o lúdico que seve para indicar como aquele sujeito se relaciona com o aprender. Como , por exemplo, as regras do jogo são seguidas ou descumpridas.
E, desta forma, o psicopedagogos vai estabelecendo hipóteses sobre a modalidade de aprendizagem do sujeito , o que vem a ser o objetivo do diagnóstico psicopedagógico.

AS NOVAS TECNOLOGIAS

FAÇAMOS NOSSAS CRIANÇAS MAIS FELIZES
As Novas Tecnologias

O que Skinner, Piaget e Vygotsky teriam a dizer sobre o computador e a Internet nas escolas? Neste artigo, a professora Raquel C. Navarro, da Faculdade de Filosofia São Camilo, do Espírito Santo, fala sobre uma experiência com Informática Educativa numa escola municipal e analisa os recursos tecnológicos colocados à disposição da comunidade educacional como um desafio a ser enfrentado, lembrando que uma ferramenta não substitui o envolvimento humano e a afetividade indispensáveis ao desenvolvimento da sociabilidade.Partindo dos estudos de Skinner, passando por Piaget e chegando ao sócio-construtivismo de Vygotsky, o artigo justifica o uso do computador como recurso válido para o desenvolvimento de habilidades e competências em alunos de quinta a oitava séries, preparando-os para um mercado de trabalho cada vez mais convulsionado por novas incógnitas.A educação brasileira está se adaptando às necessidades da sociedade, e o principal desafio é a adaptação às grandes modificações sociais, culturais e econômicas criadas pela explosão das novas tecnologias. Nesse sentido, inovar é indispensável, e urgente, mas não se trata de adaptar a educação às tecnologias, e sim iniciar um novo momento de aprendizado.Muitas escolas já estão equipadas para fazer uso da nova filosofia. Por outro lado, a frieza das altas tecnologias impõe uma contrapartida indispensável de calor humano: quanto mais tecnológica é uma sociedade, mais necessita de compensações ao nível dos valores humanos e da afetividade. É aqui que se situa a função-chave de uma escola reinventada: dar estrutura a um mundo de diversidade, fornecer os contextos e saberes de base para uma autonomia de sucesso nesse mundo, e fornecer as respostas humanas compensatórias de que a escola dos nossos dias se está a distanciar tão perigosamente.Na postura adotada durante o estágio, encontrei afinidades com tendências voltadas para o estudo das interações da escola, que (...) procuram trabalhar só o empírico e o teórico como também a teoria e a prática no contexto educacional, articulando as dimensões micro – (cotidiano) e macro – (relações estruturais e funcionais) da instituição escolar[1].
E o professor?O computador, a TV ou qualquer outra tecnologia não irá substituir o professor. Em contrapartida, ele, como capital humano, buscará instrumentalizar-se apoiado por uma base compensatória. O “produto” que dele sai: o aluno efetivamente alfabetizado, informado, politizado, conscientizado do seu valor e da sua responsabilidade no mundo moderno é a mola mestra para impulsionar a capacidade da aventura do professor por saberes diversificados.Quando iniciamos um laboratório de informática na escola, qualquer recurso que seja pode ser visto pela comunidade educacional como um “modismo” e assim tornar-se um ponto de “obrigação” o uso daquele equipamento.Teoria e PráticaPara que o educador possa construir progressivamente a sua competência profissional, é necessário que tematize sua prática, produzindo conhecimento pedagógico enquanto planeja, pesquisa, avalia e articula experiências com seus parceiros, criando intervenções que favoreçam o desenvolvimento do aluno.Dentro de um contexto psicológico e educacional, a escola passa por inúmeras “experiências” e no decorrer deste século importante vertentes teórico foram construídas. Procurando traçar um paralelo entre as teorias educacionais e a tecnologia presente hoje dentro das escolas, explicitamos algumas teorias do conhecimento:

Teoria ComportamentalistaO comportamentalismo (behaviorismo) apareceu no início do século 20 com o argumento de que o foco da psicologia humana deveria ser o comportamento ou atividades do ser humano (Watson, 1924). Na educação, o comportamentalismo está mais associado ao trabalho de Skinner, que estava focado no comportamento voluntário, deliberado, que ele acreditava ser a maior parte do repertório comportamental de um indivíduo. Defendeu a teoria de que este comportamento, que ele denominou operante, por ser a forma de um indivíduo operar ou influenciar o ambiente, é afetado pelo que se segue a ele bem como pelo que o precede.No behaviorismo, aprendizagem = exibir o comportamento apropriado. Neste enfoque, a atividade de aprendizagem é planejada de modo a serem ensejadas situações em que o estudante evidencie comportamentos desejados (digitando respostas)."Pode-se, assim, dizer que o comportamento é sempre o resultado de associações estabelecidas entre algo que o provoca (um estímulo antecedente) e algo que o segue e o mantém (um estímulo conseqüente)." (Davis, 1991:33)Para isto são organizadas atividades de ensino-aprendizagem com vistas a:

· Treinar os estudantes a exibir determinado comportamento.
· Usar reforço positivo para reforçar o comportamento desejado.
· Usar reforço negativo para reduzir a freqüência do comportamento não desejado.

A instrução programada é uma ferramenta de trabalho nesta linha de ação e aplica os princípios de Skinner de comportamento humano. As características importantes desta estratégia são:
· apresentar a informação em seções breves
· testar o estudante após cada seção
· apresentar feedback imediato para as respostas dos estudantes.

Com o crescente uso do computador na educação, surgem muitos produtos no mercado que utilizam tais princípios, entre outros. Antigos mitos, derivados de um período em que se acreditava que o computador poderia ser usado amplamente como máquina de ensinar, vêm à tona novamente.

Teoria Inatista MaturacionistaA abordagem inatista se baseia na crença de que as capacidades básicas de cada ser humano (personalidade, potencial, valores, comportamentos, formas de pensar e de conhecer) são inatas, ou seja, já se encontram praticamente prontas no momento do nascimento, ou potencialmente determinadas e na dependência do amadurecimento para se manifestar. Nesta visão, o desenvolvimento é pré-requisito para o aprendizado, e o desenvolvimento mental é visto de modo retrospectivo. Essa perspectiva pode trazer uma série de comprometimentos ao fazer educativo, pois entende que a educação pouco ou quase nada altera as determinações inatas. Os processos de ensino só podem se realizar quando a criança estiver "pronta", madura, para efetivar determinada aprendizagem. A prática escolar não desafia, não amplia nem instrumentaliza o desenvolvimento de cada indivíduo, pois se restringe àquilo que este já conquistou. Esta abordagem promove uma expectativa significativamente limitada do papel da avaliação, na medida em que considera o desempenho do aluno fruto de suas capacidades inatas. Desse modo, gera-se certo imobilismo e resignação provocados pela convicção de que as diferenças não serão superáveis pela educação.Dentro desse conceito, o professor sente na própria pele a cobrança “inatista” dos seus superiores para sua adequação às novas realidades educacionais. Sem qualquer “teste psicológico”, fica claro que o professor não possui “maturação” para utilizar de novos meios de ensino – aprendizagem.

Teoria PiagetianaPiaget construiu a sua teoria cognitiva, denominada de epistemologia genética, partindo do princípio que de existe certa continuidade entre os processos puramente biológicos e de adaptação ao meio e a inteligência, não admitindo que a inteligência seja inerente à própria vida, mas sim assumindo que a inteligência é uma das formas de adaptação criadas pela vida em sua evolução."Com efeito, a vida é uma criação contínua de formas cada vez mais complexas e um equilíbrio progressivo entre essas formas e o meio. Dizer que a inteligência é um caso particular de adaptação biológica é, pois, supor que ela é essencialmente uma organização e que sua função é estruturar o universo como o organismo estrutura o meio imediato" (Piaget, 1991:10).Esta continuidade, citada por Piaget, assume significada a partir da estrutura anatômica e morfológica, passando pelos sistemas de reflexos que levam aos hábitos e associações adquiridos que dão origem, por sua vez, à inteligência prática ou sensória motora e, por fim, à inteligência refletida.A inteligência para Piaget se constrói na medida que novos patamares de equilíbrio adaptativo são alcançados. Piaget concluiu sua obra explicitando qual o motor pelo qual este equilíbrio se processa mas, além disto, Piaget estudou exaustivamente a gênese das estruturas cognitivas nas crianças da sua comunidade. Este estudo lhe permitiu classificar grandes períodos na construção da inteligência no homem. Estes, que contemplam desde o nascimento até a fase adulta, são os seguintes:

· estágio sensório motor (entre 0 e 2 anos aproximadamente)
· estágio pré-operatório ( entre 2 e 6 anos aproximadamente )
· estágio operatório-concreto (entre 6 e 12 anos aproximadamente)
· estágio operatório-formal ( a partir dos 12 anos)

"Na medida em que os indivíduos decidem com igualdade - objetivamente ou subjetivamente, pouco importa - , as pressões que exercem uns sobre os outros se tornam colaterais. E as intervenções da razão, que Bovet tão justamente observou, para explicar a autonomia adquirida pela moral, dependem, precisamente, dessa cooperação progressiva. De fato, nossos estudos têm mostrado que as normas racionais e, em particular, essa norma tão importante que é a reciprocidade, não podem se desenvolver senão na e pela cooperação. A razão tem necessidade da cooperação na medida em que ser racional consiste em 'se' situar para submeter o individual ao universal. O respeito mútuo aparece, portanto, como condição necessária da autonomia, sobre o seu duplo aspecto intelectual e moral. Do ponto de vista intelectual, liberta a criança das opiniões impostas, em proveito da coerência interna e do controle recíproco. Do ponto de vista moral, substitui as normas da autoridade pela norma imanente à própria ação e à própria consciência, que é a reciprocidade na simpatia." (Piaget, 1977:94)Piaget define o respeito como uma valoração que se destina às pessoas e não aos objetos ou serviços, e o respeito só se concretiza pelo reconhecimento da escala de valores do indivíduo respeitado, reconhecimento não significando aqui a adoção, mas sim, a atribuição de valor. É possível inclusive que os serviços prestados por um indivíduo sejam valorizados sem que ele mesmo seja respeitado. Respeitar um indivíduo não é respeitar as regras que ele impõe (esse é o respeito na visão de Kant e Durkheim), pois como mostrou Bovet:"é o respeito pela pessoa que engendra as obrigações e não o inverso.... A 'substituição recíproca das escalas' ou 'dos meios e dos fins' nada mais é do que a expressão de um respeito mútuo" (Piaget, 1973:146).O respeito mútuo é precedido na ordem da gênese psicológica pelo respeito unilateral, ou pela valorização não recíproca de dois indivíduosA introdução às novas tecnologias deve ser feita a partir de um interesse específico do sujeito que aprende. Esse interesse pode ser lúdico, estético ou pragmático. O aprendizado portanto se dá com o uso efetivo do computador para a realização de uma tarefa. Conforme Piaget, o conhecimento se constrói na ação efetiva, seja esta a ação que se realiza sobre os objetos ou na interação com os outros sujeitos.Atender a um interesse específico do sujeito que aprende pressupõe um respeito efetivo à individualidade deste sujeito, pressupõe também a inserção do processo do aprendizado na realidade e no contexto da vida dos alunos.



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Bibliografia
· DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. Editora Cortez. São Paulo, 1991
· SMOLKA, A. L. B. A prática discursiva na sala de aula: uma perspectiva teórico e um esboço de análise. Cadernos CEDES. Campinas. Papirus / CEDES, 1991.
· PIAGET, Jean. Estudos Sociológicos. Ed. Forense. Rio de Janeiro, 1973.
· PIAGET, Jean. O julgamento moral na criança. Editora Mestre Jou. São Paulo, 1977.
· ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da Educação. Ed. Moderna. São Paulo, 1997.
· CRUZ, Roseli Fontana Nazaré. Psicologia e Trabalho Pedagógico. Ed. Atual. São Paulo, 1997.