sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Temas Transvers

A prática da transversalidade

Os temas transversais representam a maior das novidades propostas às escolas pelos PCN. Cada um deles apresenta questões urgentes da sociedade brasileira que complementam os conteúdos escolares. Tratam de ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.

O que são os temas transversais?

Eles representam a maior das novidades propostas às escolas pelos PCN. Cada um deles apresenta questões urgentes da sociedade brasileira que precisam ser discutidas, e cujos conteúdos passam por todas as áreas, transversalizando as disciplinas convencionais. São questões que complementam os conteúdos escolares e referem-se a ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, pluralidade cultural — os chamados temas transversais. Eles recebem essa definição porque não são disciplinas a mais no currículo escolar, nem se limitam a uma determinada área do conhecimento. Os temas transversais implicam não só a sua discussão por parte dos professores, como a adoção de atitudes coerentes com a educação centrada no exercício da cidadania. Saúde e meio ambiente costumam ser trabalhados com mais facilidade, pois representam linhas de pensamento construídas e aceitas socialmente. Para muitos, a orientação sexual é um tabu, enquanto a ética e a pluralidade cultural deixam muito mais à mostra o modo como o educador pensa e age.

Qual é a importância dos temas transversais dentro dos Parâmetros?

O conceito de tema transversal surgiu na Inglaterra quando o currículo mais fechado do mundo começou a abrir espaço para outras concepções de educação, como a idéia de que o conhecimento pode ser construído por meio de atividades. Da observação dessas experiências surgiu a percepção de que existem temas que permeiam os conteúdos das várias áreas do conhecimento. Os temas transversais são exatamente isso.

Os temas transversais podem estar, de fato, presentes em todas as disciplinas?

Sim. Cada professor deve olhar para o seu ciclo e procurar os objetivos convergentes. O ideal é que a escola estruture o seu projeto educativo, com a participação de todos os professores. Também seria ideal que o professor fosse vinculado a uma determinada escola, isto é, que estivesse totalmente comprometido com o projeto da "sua" escola e não precisasse se dividir em várias instituições. Quando o currículo é montado sobre um projeto consistente, os temas transversais surgem naturalmente, pois são os eixos que levam à formação geral do cidadão. Por isso, eles não podem estar nas mãos de apenas um professor, mas devem passar pela postura coerente do conjunto de profissionais da escola.

Os temas transversais exigem uma maior integração entre os professores?

Sim. Os temas transversais obrigam os professores a se colocarem no lugar do outro. Esse outro pode ser tanto o aluno quanto o professor de uma outra área, ou até mesmo os demais profissionais da escola, desde os serventes até a diretora. Por exemplo: o professor não aceita um trabalho entregue com atraso, mas não marca prazo para devolver as provas aos alunos. Claro que se o trabalho não fizer sentido para a criança, ela vai entregá-lo só porque tem medo de tirar nota baixa. O papel da escola é coordenar e compatibilizar a construção do conhecimento com a realidade cotidiana, e os temas transversais são um instrumento privilegiado para isso. O professor tem a tendência de achar que vai ter de ensinar a sua disciplina e mais os temas transversais. Não é nada disso. Os temas também levam os professores a fazerem parcerias, para que um não repita o que o outro está ensinando. O trabalho deve ser feito em equipe: é importante que haja cobertura dos demais professores. Quando isso não acontece, o aluno muitas vezes consegue distinguir entre quem está realmente interessado em ajudá-lo a descobrir, a aprender e a crescer, e quem não está. Mas nem sempre isso acontece e o professor bem-intencionado acaba pagando pelos demais. As equipes devem ser co-autoras dos projetos das escolas.

Quais são os fundamentos dos temas transversais?

Respeito, diálogo, justiça e solidariedade devem estar presentes nas relações que se desenrolam na escola o tempo todo. Estes são os fundamentos da educação e dos temas transversais. A escola foi criada para dar educação formal ao cidadão. A sua função é socializadora. Por isso, é importante que não só os professores, mas todas as pessoas que trabalham na escola tenham uma postura coerente. Se a merendeira atira o lanche da criança de qualquer jeito, ela não está dando um bom exemplo de respeito mútuo. É uma questão ética. Nesse sentido, a direção escolar tem um papel importante, pois a maneira como diretores e supervisores tratam os professores é reproduzida na relação com os alunos.

Os temas transversais levam a um maior envolvimento com a comunidade?

Sim. À medida que a escola incorpora as discussões que estão agitando a comunidade, automaticamente, quem está ao redor sente-se tocado, identificado e começa a participar. Para que isso aconteça, é preciso que a escola como um todo tenha um projeto educativo que contemple a comunidade.

A idéia de sempre partir do conhecimento prévio dos alunos também é possível no caso dos temas transversais?

Sim. Aliás, isso vale também para o professor. Isso mesmo, os professores também possuem conhecimento e experiência adquiridos em anos de prática de sala de aula. No entanto, eles geralmente esquecem esse procedimento em relação a seu próprio trabalho. Por exemplo, é comum ver os professores com um caderno em branco no planejamento do início do ano. Onde ficaram as anotações, as experiências anteriores? É preciso registrá-las para que sejam usadas. Os próprios documentos dos PCN devem ser material de consulta  quando surgir uma dúvida, o professor vai lá e relê. Por isso, devem ser riscados, anotados, questionados.

Há mais de uma forma de trabalhar os temas transversais?

Sim. Existem três vertentes para o trabalho com os temas transversais. Em primeiro lugar, o professor deve incluir em seu planejamento de aulas o levantamento de questões relacionadas aos temas transversais. A segunda forma de trabalhar é por meio de projetos. Os projetos são questões mais amplas que envolvem a participação de várias disciplinas. Um jeito interessante de começar a montar um projeto é fazer um mapa conceitual ou semântico. A partir do tema escolhido, colocam-se no papel os vários aspectos que serão abordados, mostrando as relações entre eles. É uma forma de ter clareza quanto ao que se pretende com o projeto. A terceira linha de trabalho é a atenção permanente. O professor precisa estar atento o tempo todo para perceber a necessidade de agir em momentos críticos. Por exemplo: se ele identifica uma atitude racista entre seus alunos, deve interferir e levantar o assunto imediatamente. Também deve se auto-observar para que sua postura seja coerente com seu discurso.

Como tratar a orientação sexual para as crianças de 1a a 4a série?

Na 4ª série, isso pode aparecer naturalmente como tema na sala de aula, quando as crianças estudam o corpo humano. Mas a referência dos Parâmetros é clara: a orientação sexual deve ir muito além da anatomia. Afinal, a sexualidade atravessa mesmo a vida da escola com todo o seu potencial explosivo. Os PCN, porém, se propõem a facilitar a vida do professor nesse aspecto.