domingo, 1 de março de 2009



EDUCAÇÃO FÍSICA

O que está em jogo


A Educação Física deve agregar todos os alunos nas atividades físicas, afirmam os PCN. Como? Adotando a dança, os jogos, as brincadeiras e as lutas, além da ginástica e dos esportes como objetos de ensino-aprendizagem.

O que muda no trabalho da disciplina com os PCN?

Até os anos de 1970, a ênfase da disciplina estava na prática dos esportes. A idéia era fazer todo mundo praticar algum esporte. Quem se sobressaísse poderia até representar o Brasil nas competições internacionais, com grande destaque. Isso acabou não acontecendo. Na realidade, o resultado foi o contrário, com a exclusão de uma grande parte dos alunos da atividade física. Quem não conseguia atingir o padrão exigido dizia "não gosto de esporte", mas o que estava subentendido era "não sei jogar basquete" – e se colocava de fora. Nada mais natural, uma vez que a Educação Física é a disciplina que mais expõe os alunos. Em outras áreas como Português, Matemática ou História, se o estudante não fosse bem, ele tinha duas alternativas: ou procurava um professor particular para se recuperar ou era reprovado. Na Educação Física, ele se afastava das quadras. Hoje os Parâmetros propõem a inclusão de todos os alunos nas atividades físicas, já que elas são um modo de desenvolver o bem-estar, as relações pessoais e o cuidado consigo mesmo. Da 1ª à 4ª série, isso se dá principalmente por meio de variações de jogos populares como pega-pega e mãe da rua. Os PCN inserem a Educação Física na formação da pessoa. Para atender à diversidade de conteúdos e situações, eles propõem que a dança, os jogos, as brincadeiras e lutas sejam incluídos como objeto de ensino-aprendizagem, junto com a ginástica e os esportes. O aluno deve sentir prazer em perceber a cultura corporal, isto é, conseguir valorizar o refinamento de uma jogada de futebol ou a apurada técnica de um bailarino clássico.


Quais são os conteúdos de Educação Física?

Assim como nas demais disciplinas, na Educação Física há conceitos, procedimentos e atitudes. Os conceitos são os conjuntos de regras das atividades físicas, como nos jogos e esportes. Os procedimentos são o saber-fazer: correr, passar a bola, pular, agachar, chutar a bola, arremessar. As atitudes são representadas por tudo o que esses conhecimentos geram nos alunos em termos de postura, comportamento – como autonomia, liderança, espírito de equipe. Por exemplo, num jogo como pique-bandeira, a criança precisa desenvolver a autonomia. Na verdade, os conteúdos aparecem todos ao mesmo tempo. O professor pode dividir a turma em duas equipes para jogar queimada e alterar a regra, de modo que haja dois ou três integrantes que excedam o número máximo de jogadores em campo. Estes vão para a reserva, mas o professor avisa que todos têm de jogar. Ele cronometra o tempo de jogo de cada aluno. No final, discute com a turma por que alguns jogaram pouco e outros quase o tempo todo. Se a justificativa for o fato de não jogarem tão bem, ele deve questionar a resposta. Afinal, quem não praticar nunca vai desenvolver habilidades para jogar melhor. Uma situação corriqueira como essa possibilita discussões ricas sobre atitudes, ao mesmo tempo que permite ao professor exercitar os procedimentos e o conhecimento das regras, isto é, os conceitos. Como a Educação Física é principalmente um trabalho em equipe, é um campo privilegiado para se trabalhar as relações interpessoais. Outra atividade é simplesmente mostrar o vídeo de uma final do campeonato brasileiro de futebol e discutir as jogadas violentas.


Como o professor de Educação Física deve encarar a superação de limites?

A competitividade é um dos valores da Educação Física, assim como a cooperação. É preciso saber quando ser competitivo e quando ser cooperativo. Se os meios de comunicação enfatizam a superação de limites a qualquer custo, cabe ao professor de Educação Física orientar seus alunos sobre o que é saudável e o que não é, para que consigam avaliar quando estão excedendo seus limites e prejudicando sua saúde. A decisão é de cada um, mas deve ser tomada depois de uma reflexão. Cada aluno deve ter clareza de que existem opções e que elas devem ser conscientes, de acordo com os valores que forem mais importantes para si.


Quais as maiores dificuldades na aplicação dos PCN de 1ª a 4ª série?

Uma grande dificuldade é a polivalência do professor de 1ª a 4ª série em muitas escolas públicas, inclusive na área de Educação Física. Em geral, como os professores não praticam uma atividade física, o receio é de que eles ensinem conteúdos conceituais em uma aula teórica na classe e não na quadra.


As crianças têm habilidades diferentes. Na Educação Física, essas diferenças são mais perceptíveis. Como é possível não deixar de lado quem tem mais dificuldade para as atividades físicas?

Um ponto fundamental a ser considerado é que nem todos precisam fazer a mesma coisa ao mesmo tempo, exatamente porque as pessoas têm habilidades diferentes. Daí a importância da variedade de objetos de ensino-aprendizagem na disciplina. Se a criança tem a oportunidade de viver diferentes possibilidades, ela percebe que pode participar com sucesso de muitas atividades, mesmo não sendo craque em futebol, mesmo não sendo a mais forte ou a mais rápida.


Como funciona a valorização do conhecimento prévio da criança na Educação Física?

É preciso descobrir e valorizar o que as crianças dessa faixa etária conhecem sobre jogos de rua, por exemplo. A partir daí, o professor vai introduzir jogos novos, mas considerando as habilidades desenvolvidas pelas crianças, como bater bola, passar a bola etc. – isso também é conhecimento prévio.


Que critério o professor deve usar para organizar seus conteúdos?

O critério básico é escolher conteúdos que tenham relevância social na região onde o professor está ensinando. No Brasil, futebol é muito mais importante do que basquete, por exemplo.


Como a Educação Física trata os Temas Transversais?

A questão do meio ambiente, por exemplo, é latente, pois meio ambiente não é só o campo, o rio. É o meio em que vivemos. Por isso, não adianta fazer discurso sobre preservação do meio ambiente e deixar a quadra suja ou uma torneira vazando. Outro aspecto do meio ambiente em Educação Física é a discussão sobre os esportes radicais, ou seja, verificar exatamente o quanto eles deterioram o meio ambiente e como se pode praticá-los com o máximo de respeito pela natureza. O conhecimento das diferenças entre os sexos, isto é, entender que o corpo feminino e o masculino se movimentam e se organizam de formas diferentes, é muito importante. Em uma partida de basquete masculino, o que mais conta é a potência; no feminino, a habilidade. A dança é uma excelente forma de comunicação entre os sexos que pode ser usada na aula de Educação Física. O problema é que ainda há muita resistência por parte dos alunos. É preciso respeitar o outro, a multiplicidade de vivências. Mais uma vez, a dança pode ajudar – e muito – na percepção e valorização de outros povos e etnias.


Qual deve ser a postura do professor diante dessas novas propostas?

A postura é a de um mediador. Ele deve ter em mente que para ensinar algo não tem, necessariamente, de saber tudo sobre aquilo, mas é fundamental que se coloque o tema como uma questão. Há momentos em que a descoberta se faz na parceira do aluno com o professor. Ele deve sempre considerar que há conteúdos ocultos. O seu papel é montar as aulas procurando gerar desequilíbrios, para colocar os alunos à prova no manejo dos conflitos, pois é aí que se aprendem as atitudes que vão formar cada aluno como cidadão. Além disso, os PCN precisam ganhar vida nas mãos dos educadores, para que sejam realimentados. Não temos tempo para recomeçar do zero. Temos de correr atrás de uma excelência na educação brasileira. É importante que a reflexão seja conjunta.


O que muda na avaliação?

A avaliação tradicional contabiliza a freqüência e a participação. Agora, é preciso olhar o processo de aprendizagem e não o resultado isoladamente. Para tanto, o professor precisa criar novos instrumentos de avaliação. Por exemplo, criar uma ficha de condicionamento físico para que os alunos anotem o que estão fazendo em casa é um jeito interessante de avaliar o compromisso, a disciplina, a organização e ao mesmo tempo perceber como eles estão aplicando o que foi aprendido, verificar se os conteúdos ficaram claros. Muito mais do que definir um conceito para os alunos, esse tipo de instrumento deve servir de base para a discussão e reflexão em grupo de professores entre si, e entre professores e alunos.



ARTES

As inovações das Artes


Em Artes, os PCN propõem que os professores orientem as crianças para desenvolver a observação, a imaginação e a sensibilidade. Desenvolvimento que se dá por meio de quatro linguagens artísticas: artes visuais, música, dança e teatro.


O que os PCN propõem para o ensino de Artes de 1ª a 4ª série?


Um dos pontos inovadores dos PCN é o rompimento da dicotomia entre arte e ciência, entre pensar e agir, entre sentimento e pensamento. O ensino de Artes visa desenvolver na criança e a sensibilidade, essenciais também para a aprendizagem das demais disciplinas. Esse desenvolvimento se dá por meio de quatro linguagens artísticas – música, dança, teatro e artes visuais. A maneira de trabalhar os conteúdos também é inovadora. Até aqui, a maioria das escola que inclui a dança em sua programação, o faz por meio de coreografias sem nenhuma espontaneidade ou criatividade. Também são comuns as aulas de balé em algumas escolas particulares, num movimento oposto ao que acontece nas ruas do Brasil, onde a dança explode naturalmente como um elemento fundamental da nossa identidade cultural. Outras mudanças são a substituição de artes plásticas por artes visuais e a a inclusão do teatro, que até então se resumia praticamente às famosas montagens de "pecinhas" de final de ano.

Qual a maior dificuldade no ensino de Artes de 1ª a 4ª série?


É a formação do professor, que na maioria das vezes é polivalente, isto é, tem de dar conta de Artes, Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e Educação Física, sem falar nos temas transversais. Assim, é comum que o professor não tenha muita experiência em arte, nem reflexão sobre as quatro linguagens em que ela se desdobra no ensino. Daí a necessidade de um programa para a formação contínua desses professores. Nesse sentido, os professores de 5ª a 8ª série, que têm formação específica, podem ajudar a superar as lacunas. De qualquer forma, é importante que a escola tenha um projeto educativo que dê subsídios para que o professor possa se lançar nesse desafio. Outra questão é a dificuldade de dar aula em 50 minutos semanais. Deveriam ser, no mínimo, duas aulas por semana.


Por que Artes Visuais e não Artes Plásticas?


Artes plásticas são a pintura, a escultura, o desenho, a gravura, o artefato. Artes visuais é um conceito mais amplo, que inclui novas modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas modernas, como fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação e performance. A função comunicativa da arte adquire uma importância muito maior de acordo com a proposta de artes visuais. Essa nova forma de encarar a arte também acentua o seu caráter histórico, como um processo construído pelo ser humano e portanto, em contínua transformação.
Qual é o objetivo do ensino de dança?
A criança não pára de se movimentar. Correr e pular são atividades mais do que naturais para as crianças que estão conhecendo o próprio corpo, um elemento fundamental na construção da autonomia. Até os 10 anos, a criança possui um vocabulário gestual fluente e expressivo, isto é, ela se movimenta com liberdade e criatividade. O objetivo da dança é fazê-la entender o funcionamento de seu próprio corpo para que possa usá-lo expressivamente com inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade.
Qual é a função do teatro?


No Ensino Fundamental, o teatro proporciona experiências que contribuem para o crescimento integrado da criança, unindo ação e emoção, reflexão e expressão. Além disso, trata-se de uma arte construída coletivamente – mesmo que se trate de um monólogo. A existência de diversos profissionais, como o cenógrafo, o figurinista, o sonoplasta e o iluminador faz do teatro uma arte que possibilita uma troca de experiências coletivas e muito enriquecedoras.

Qual é a saída diante da falta de formação artística da maioria dos professores?


De acordo com os Parâmetros, arte não é só criação. É também saber apreciá-la e refletir sobre seus significados. Esta pode ser uma alternativa para quem não tem uma habilidade especial para as várias linguagens artísticas. Outra alternativa são os professores/artistas convidados. Se o professor não sabe tocar um instrumento musical ou é desafinado, nem por isso está impedido de dar aula de música. Ele pode ensinar seus alunos a apreciarem a linguagem musical, a ouvir, explorando as diferenças entre o som e o silêncio, a sonoridade grave e a aguda, por exemplo. O professor pode não ser um Beethoven ou um Michelangelo, mas deve ter a capacidade de se expressar. É importante que ele tenha isso em mente para não exigir que seus alunos produzam obras-primas. Sua função é a de ajudá-los a desenvolver a capacidade de se comunicar, de expressar seus sentimentos e suas idéias por meio das linguagens artísticas à sua disposição. Também é importante não comparar  cada um se expressa na medida das suas possibilidades, com mais facilidade em uma área do que em outras.

Se o professor tiver formação em uma linguagem específica, ele está apto a ensinar as outras três?


É claro que é praticamente impossível trabalhar as quarto linguagens ao mesmo tempo. A sugestão é dividir segundo os ciclos de dois anos – duas linguagens por ciclo. Pode-se escolher duas linguagens durante um ano e repeti-las no ano seguinte ou trabalhau sobre apenas uma linguagem ao longo do ano inteiro. Isso fica a critério da escola, de acordo com o seu projeto educativo. Em geral, as crianças do primeiro ciclo gostam de cantar, brincar e fazer atividades plásticas. Isso pode servir como guia para a montagem do currículo. O que não se pode fazer é passar os quatro anos dos dois ciclos com apenas uma linguagem artística.


Como se utiliza o conhecimento prévio em relação às Artes?


Os PCN estimulam o professor a trabalhar com as manifestações artísticas típicas da região em que vive. Esse é um bom ponto de partida inclusive para a escolha de conteúdos. Outro dado importante atualmente é aproveitar a interligação entre arte e meios de comunicação de massa. A arte pode ser usada para contar a história da cultura e da própria vida das populações.
Qual é o tratamento para os temas transversais nas Artes?
Eles vêm à tona naturalmente. O respeito ao trabalho alheio é um ponto fundamental da educação pela arte e resgata uma questão ética básica em nossos dias. A discussão sobre o meio ambiente também emerge facilmente pela percepção de diferentes sonoridades, como o som da natureza, o som da cidade, a poluição sonora. A reciclagem de papel é um jeito sensível e divertido de ilustrar uma discussão interessante sobre a preservação ambiental. Quanto mais papel for reciclado, menos ávores serão derrubadas. O reconhecimento e a valorização das expressões artísticas dos mais diversos povos é uma forma de apresentar a questão da pluralidade cultural.

O que muda nos critérios de avaliação?
A avaliação pode ser feita por meio de imagens, dramatizações ou composições musicais, ou ainda pela exploração de pequenos textos ou falas em que as crianças abordem os conteúdos estudados. O professor deve estar atento para que a resposta seja pessoal e coerente com o que foi estudado e com as as possibilidades de o aluno aprender. Para tanto, é importante que ele conheça a articulação dos saberes da criança e seus modos de representação dos conteúdos.