quinta-feira, 5 de março de 2009

FILOSOFIA

1
Plano de Aula
Plaft! Soc! Bum! Pou!!
Ensino Médio
1º ao 3º ano
Objetivos: Refletir sobre o impacto da violência

dos desenhos animados sobre o indivíduo

Ciências Humanas e suas Tecnologias
Filosofia

Atitude filosófica e vida cotidianaA violência exagerada dos desenhos animados e dos filmes não é capaz de aumentar a agressividade dos espectadores
Este plano de aula está ligado à seguinte reportagem de VEJA:
Bichinhos legais
25 de novembro de 1998



Objetivos
Refletir sobre o impacto da violência dos desenhos animados sobre o indivíduo.

Introdução Acompanhe esta seqüência:
Luís, oito anos, assiste a um desenho animado na sala de casa.
Na tela, o Papa-Léguas atira um pesada bigorna, do alto de um penhasco, na cabeça do Coiote, seu eterno inimigo. Bip! Bip!
O pobre Coiote fica achatado como uma panqueca.
Luís arregala os olhos. Com um sorriso suspeito, pega um vaso de cima da mesa.
Sobe a escada vai até o berço em que dorme seu irmãozinho Pedro. PLOFT!!
A cabeça do bebê vira geléia.
A não ser que Luís fosse um perigoso psicopata-mirim, tal cena jamais aconteceria.
Considerar que tiros e sangue de mentira provocam ou reforçam o que acontece na vida real - como fazem os politicamente corretos - é uma forma simplista de explicar a violência da nossa sociedade. O ser humano, felizmente, é muito mais complexo do que insinuam esses psicologismos rasos. Coloque a questão em discussão na classe.
Texto de Apoio Nos anos 70, era moda estudar a influência dos programas infantis, desenhos animados e filmes na formação do cidadão. Não eram raras as pesquisas (na área da Psicologia Experimental) que expunham crianças a uma programação considerada violenta e logo após davam a essas cobaias um pedaço de pau e um boneco para checar se elas - influenciadas pelo programa - o malhariam. Ainda hoje há estudos que expõem adolescentes a filmes violentos e, logo após, pedem a eles que pratiquem um esporte, concluindo que o fazem de forma mais violenta. Tão caricaturais quanto filmes classe C, essas pesquisas reduzem a complexidade do psiquismo, sugerindo que o jovem é manipulável, sujeito a modelos mecanicistas. Para nossa sorte, o psiquismo humano é muito mais complexo do que um simples conjunto de causas e efeitos. Ele está sujeito à história de vida de cada um, ainda que dentro de uma mesma classe social ou faixa etária. Por isso, a violência caricatural dos personagens de desenhos animados e filmes não deve ser responsabilizada como causa ou facilitadora da violência real. Está certo que uma criança ou um adolescente, ao ver uma cena de violência, experimenta algumas vezes um processo catártico, ou seja, vê-se momentaneamente no papel da vítima ou do vilão. Isso não significa, entretanto, que eles vão incorporar os conteúdos da violência. É muito provável que essa "vivência" do papel da vítima ou do agressor seja saudável, já que os ajuda a elaborar seus próprios conteúdos agressivos. As crianças que assistem ao Tom (de Tom e Jerry) ser cortado em fatias ou achatado por um rolo compressor percebem que a violência está sendo tratada com fantasia e exagero. Trata-se de uma maneira de tornar acessível aquilo que, na realidade, é horrível até de se pensar, permitindo que a criança e o adolescente lidem com seus medos.
O mesmo papel cabe às histórias orais e aos livros que, analisados com os tais olhos "politicamente corretos", podem ser considerados tão "violentos" como os desenhos animados . O que talvez seja realmente sério nessa relação da criança e do adolescente com as programações diárias de televisão é o tempo em que ficam expostas a esquemas e modelos estéticos repetitivos. Talvez esse lazer indolente de deixar-se levar pela programação desse uma excelente (e séria) pesquisa: por que as crianças e jovens se deixam levar por tanta repetição? Não seria pelo fato de que o jovem, no final, necessite desses programas para lidar com uma violência sorrateira e mascarada imposta por um modo de vida competitivo e violento?

Atividades 1.
Organize um debate com a turma em que apareçam as seguintes questões: a violência exibida nos programas infantis e filmes tem o poder de transformar o telespectador infanto-juvenil em pessoa violenta? Ao viver a emoção simbólica da violência, o espectador poderia estar descarregando simbolicamente suas emoções negativas? Os filmes fazem mal pelas próprias cenas ou porque monopolizam a mente do espectador, que se deixa levar pela programação?

2. Para trabalhar com a linguagem dos desenhos animados, grave um deles em vídeo (sugestões: Beavis e Butt-Head, Os Simpsons, Frajola e Piu-Piu, Tom e Jerry) e peça aos alunos para destacarem a fábula (a história contada), o enredo (como foi contada) e os detalhes que, na opinão deles, atingem a emoção do público (riso, medo, expectativa etc.). Em seguida, inicie um exercício de observação dos seguintes elementos: a. Intertextualidade: a história lembra alguma outra? O autor partiu de alguma história já conhecida? b. Estereótipos e clichês: destaque dicotomias como o bem contra o mal, o esperto contra o bobo, o grandalhão contra o fraco. Clichês, como a bomba que estoura sempre na mão do vilão, certamente serão percebidos. c. Textualidade (estratégia da previsibilidade): aguce a capacidade de previsão da turma: tome um filme de ação, mostre as primeiras cenas e desligue a TV. Em seguida, pergunte a cada aluno como será o desfecho e por quê. Passe o restante do filme e confira as previsões. As fadas tinham dentes. E mordiam!

Histórias infantis nem sempre tiveram finais felizes, enredos cor-de-rosa e perdão para os vilões. Os mais famosos contos de fadas, originários da história oral da Idade Média e depois registrados pelos Irmãos Grimm, carregam em seus enredos cenas de arrepiar os cabelos de qualquer adulto. Os originais de O Pequeno Polegar, por exemplo, não omitem uma só gota de sangue jorrado das cinco meninas degoladas por engano pelo próprio pai, um malvado Ogro, que queria matar o Polegar e seus irmãos. A madrasta malvada de Branca de Neve é obrigada, no final da história, a vestir chinelos de ferro em brasa e dançar até morrer. Aliás, não foi por pena que os sete anões recolheram a jovem e pálida princesa que encontraram na floresta. Eles a julgaram a pessoa ideal para fazer os serviços da casa, como lavar suas roupas e preparar seu almoço. A meiga história de Cinderela também tem seus momentos de terror: sem conseguir vestir os pequenos e delicados sapatinhos, as irmãs más cortam com uma faca os dedos dos pés e os calcanhares. As pombas brancas, amigas da mocinha, denunciam a farsa ao princípe, quando vêem o fio de sangue que saía dos sapatinhos. No casamento de Cinderela, as mesmas pombinhas vingativas furam os olhos das duas, cegando-as para sempre. O realismo dessas histórias foi mantido e revisto várias vezes ao longo do tempo. Charles Perrault, por exemplo, autor que recontou vários contos de Grimm, adaptou-os ao gosto da aristocracia francesa do século XVII, abrandando as passagens mais cruas e criando desfechos felizes. De lá para cá, esse processo se acentuou chegando a distorcer profundamente os enredos originais. É o caso de Chapeuzinho Vermelho. Os Grimm descrevem com detalhes como o lobo mastiga a menina e sua avó. Perrault ameniza os detalhes das mortes, mas elas efetivamente acontecem. Na literatura moderna, aparece a figura do caçador, que salva as vítimas da mocarra do lobo e o mata.